Na profundidade dos altos edifícios a humanidade parece inexistente. Os prédios que arranham o céu, criados por esses mesmos humanos que agora somem entre eles, supomos desprovidos de humanidade, porém, como um mecanismo vivo que cresce e engole seu criador.
Entre o concreto tudo e todos se parecem concreto e silêncio; apesar de que os prédios, vistos assim, na visão de Feininger, parecerem gritar contra quem os olha de cima.
Isso porque o silêncio vem de nós, ínfimos e invisíveis, não dos prédios.
Os gritos são como agulhas a subirem ao céu em busca de algo, como a lhe ferir. Ao afrontar a fotografia, sinto essas agulhas quase a tocarem meus olhos − flechas afiadas contra quem as olha; enquanto lá no fundo, lá embaixo, estão os prédios que ainda não cresceram – ainda! Pois a sensação que tenho é a de que a qualquer momento estes prédios infantes também vão emergir como os vizinhos e furar o ar numa profusão de agulhas, feito flechas a subir, subir, subir contra tudo.
Nada restará lá embaixo, nada será baixo. Quem caminhar pelas ruas no momento da emersão será espetado e suspenso no ar como peixe as se debater no arpão. O chão será de sombra, engodo de prédios a bloquear caminhos, de onde o céu será visto apenas por breves frestas retilíneas. E o mundo será vertical.
Ao olhar a fotografia, vejo estacas, vejo agulhas, vejo flechas e arpões; gente, não vejo.
Você criou o pesadelo de alguém que viu a foto antes de dormir. W. J. Solha
ResponderExcluirDelírios, Solha, delírios fundados na experiência de caminhar em ruas silenciosas à sombra de prédios que me tomam o céu e a brisa do mar. No mais, sempre morei em casa, nunca em prédios, rs!
ExcluirObrigado pela visita e leitura!
Abraço!
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