12/08/2009

agosto 12, 2009
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Cumprindo minha promessa, feita em um texto anterior, aqui está uma pequena resenha sobre o livro Demian (1919), de Hermann Hesse, um dos meus livros prediletos. Espero que se interessem e o leiam, é um grande livro.

O livro, escrito sob uma maravilhosa mão poética, facilmente vista nas descrições imagéticas e na própria concepção do texto, retrata a saga interior de Emil Sinclair; um jovem burguês alemão que vive entre a realidade e o sonho.

A narrativa, concebida em primeira pessoa, segue-o desde sua infância, quando já vivia entre dois mundos: o luminoso e o sombrio, em que o primeiro representava sua casa e família; e o segundo, o perigoso, o assustador e o fascinante.

No transcorrer de sua viagem interior, torna-se amigo e “pupilo” de Max Demian, mola mestre de seu auto descobrimento e deseducação do seu puritanismo educacional, um garoto inteligente, sagaz, misterioso e sedutor, que se mudou para a cidade com a mãe viúva, Eva, – mulher por quem Sinclair sonha e se apaixona no futuro.

Ao lado desse jovem precoce e sedutor, Sinclair descobre o que é ser um filho de Caim, e o poder de fazer o bem ou o mal que esses filhos carregam, distinguidos com o que a Bíblia chama de “o sinal de Caim”. Com Demian também toma conhecimento de um deus cultuado por ele, por sua mãe, e por outros membros de uma organização a qual eles pertencem. O deus é Abraxas¹, uma divindade que contém em si mesma o bem e o mal.

Posteriormente, no início da adolescência, trava curta mas indispensável amizade com Pistórius, um jovem organista, culto, estudante autodidata de teologia, transviado e filho de importante pastor; tornando-se também bastante importante na busca de Sinclair pelo seu Eu.

Com esses amigos, somados ao seu próprio refúgio em si mesmo – vivendo a solidão, a angústia e os sonhos necessários para o seu desenvolvimento – o protagonista de Hemann Hesse tornar-se mais firme e seguro de qual é seu papel no mundo.

Numa narrativa influenciada pela psicologia analítica de Carl Gustav Jung, a quem Hesse recorreu depois do estresse sofrido na Primeira Guerra, e por Freud, "de um certo entrevelado complexo de Édipo (aqui exposto através de um sutil mecanismo de transferência)" (p. 9), como diz Ivo Barroso no prefácio² do livro, tendo a impressionante Eva, mãe de Demian, como uma referência à própria mãe de Hesse, essa obra retrata a busca da essência do Eu, num misto de sonho e realidade, filosofia e psicologia, mostrando que, nas palavras de Sinclair,

A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidade e casas de ovo de um mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens, e continuam sendo rãs. esquilos ou formigas. Outros são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas cada um deles é um impulso em direção ao ser (HESSE, 2004, p. 16-7).

Assim, existem os mais fortes que não temem essa vida, e buscam descobrir-se e sentir o mundo ao seu redor, e os mais fracos que preferem viver no conforto da ignorância. Qual deles é você?






Referência Bibliográfica:
HESSE, Hermann. Demian. 34. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.


Imagem¹: Capa da 34. ed. da editora Record, 2004.
Imagem²: Capa da edição comemorativa dos 50 anos de lançamento da obra no Brasil.

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¹ Curiosidade: Abraxas também é o nome de um dos discos mais famosos do músico Santana, inclusive com uma foto de um ser que compreende várias formas na capa.
² Na nova edição da editora Record esse texto de Ivo Barroso se encontra no posfácio.

7 comentários :

  1. Eu já li alguns livros do Hermann Hesse, mas não tinha visto esse ainda.
    Mas agora vou procurá-lo, pois a sua resenha trouxe interesse em lê-lo.

    Ah, deixe-me apresentar.
    Sou amigo da Fernanda Ramalho e ela me indicou seu blog.
    Também escrevo.
    Vou segui-lo.

    Abraço.

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  2. Olá,
    mesmo tendo um olhar de leitor,pertencente a plebe rs,continuo achando seus escritos geniais,perfeitos,parabéns!Quem sabe o Brasil,acorde e tenha um olhar mais sério para pessoas como você.
    bjs
    Mari

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  3. Márcio, obrigado pela visita, pela leitura e por me seguir. Você tem bom gosto para as amigas (rs!), eu adoro a Fernanda.

    Vou conhecer o seu blog também.

    Um grande abraço!

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  4. Mari, Mari, Mari,

    Sempre gentil. Um gênio... vou tentar chegar lá.

    Um beijo, menina bonita!

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  5. Obrigada pela dica mais uma vez.. vou procurá-lo por aqui e logo te digo o que achei...

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  6. Fernanda:

    Leia o livro se o encontrar, posso ser seu Demian, ahahaha!

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  7. Há "autores" que escrevem muito e não dizem nada, ou qdo dizem, é pouco. É claro que Hesse não é deste time! rs Sempre que leio algo dele, eu guardo aquilo para sempre dentro de mim. Não li este livro em específico ainda, mas a sua resenha está à altura "hessiana" e acaba de me proporcionar pensamentos...

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