31/12/2016

dezembro 31, 2016
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Hoje senti o mundo mais lento, como se o raio caminhasse, como se as nuvens parassem e o sol se espreguiçasse na hora de sumir no horizonte.

Não sei se o mal que me corrói por dentro contribui para esse meu estado compassado, mas tudo vai lento, lento e longe. Ouço vozes que aparentam vir de lugares além da fronteira que estou prestes a ultrapassar.

O mundo parece dentro d´água: vozes abafadas, luzes turvas, pessoas que passam como se nadassem a braços largos. As horas têm um vagar.

Seria uma forma de me alongar a curta eternidade de que disponho? Talvez!

Talvez o que mais me fará falta será o sorriso dos pequenos. Nada mais puro do que uma criança que lhe sorrir. Mas o que digo?! Que idiotice a minha! Falta sente quem fica, daquele que partiu; o viajante seguirá um caminho rumo ao esquecimento de si e de tudo, seguirá à não-memória, ao vazio, ao vácuo, ao nada. Sentirão saudades de mim, os pequenos?

Agora me veio a impressão de que o mundo aqui fora rasteja na velocidade dela que me consume aqui dentro. O tempo de fora espelha o tempo de dentro. Desculpem-me se atraso o tempo de vocês; não sou de atrasos, mas preciso dessas horas estendidas. Logo seu tempo volta a correr e eu, no vácuo, calo-me.

Pois, não sei se concordam comigo, mas o por do sol é mais luminoso quando desce suave, assim como a mulher é mais bonita e seu sorriso mais sedutor quando leva tempo. As luzes são mais coloridas quando parecem dançar uma valsa e a família mais amada quando vista de fora, quando de algum lugar estático no tempo paramos a observá-la.

Mas é chegada a hora – o sol já se pôs, a noite rompeu e a última lua já veio. Apesar de nesse mundo passageiro a velocidade apagar a memória, caso haja tempo para se lembrarem de mim, lembrem-se como quem vê um filme em câmera-lenta, como quem rememora as boas lembranças, degustando os minutos, os segundos na eternidade que dura a lembrança. Lembrem-se de mim como quem rir ou como quem sonha.

Só não se lembrem de mim correndo como quem passa de trem pelo último poste da cidade; não quero ser passado assim.

Lembrem-se de mim... como quem ama.



Foto: William Lial

2 comentários :

  1. Respostas
    1. Obrigado, Cristina!
      Já percebi pelo seu comentário no outro texto que será um prazer tê-la como leitora.
      Se quiser acompanhar meus textos por aqui e por outros lugares, há as opções aqui do lado: fã page no Facebook, Twitter, Google+, assinatura para receber as atualizações do blog com o e-mail na coluna acima etc.

      Abraço!

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