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Sempre discordei, nas vezes que vi nos jornais, da qualificação para a previsão do tempo na categoria “Tempo bom”. Lá para as moças do tempo, “Tempo bom” é dia de sol, céu azul, calor... Mas isso nunca foi tempo bom para mim. Nasci numa terra de sol escaldante, céu tão azul que o oceano Pacífico parece estar sobre minha cabeça, prestes a desabar (bonito, mas excessivo), um calor durante 365 dias por ano e onde andar na rua ao meio dia é parte do treinamento para os vindouros caldeirões do inferno.
“Tempo bom” para mim é céu nublado, talvez uma chuva fina, mansa, clima frio, caminhar sem sol sentindo o vento chegar sobre o chão molhado, o cheiro de chuva, as gostas d’água sobrando das pontas das folhas, pingando, refletindo o mundo como fazem as bolinhas coloridas nas árvores de Natal.
Quanto à praia, temos muitas, e gosto muito, quando não tem sol. Caminhar na praia enquanto o céu está nublado ou está chovendo aquela chuva espaçada, suave, é fantástico! Mas ao sol quente... Não entendo essa paixão por se bronzear, torrar na areia, correr para as praias quando o sol grita e cospe fogo do alto, tornar-se camarão — É a mãe! — ganhar queimaduras, insolação, câncer de pele. Isso nunca foi para mim.
“Tempo bom” seria ouvir e ver no jornal: “Neste sábado, tempo nublado pela manhã, e à noite, clima frio. Temperatura máxima de 18 graus”, dito pela moça do tempo — a mesma que iria comigo à praia, no dia seguinte, comprovar o prometido. Aliás, já viram as beldades que narram o tempo, é cada uma mais... Bem, mas isso é para outro dia; por ora, aguardo as nuvens. E, para ilustrar meu “Tempo bom”, deixo vocês com o que diz Mario Quintana, em um de seus mais belos poemas, sobre a chuva e outras estações:
Família desencontrada
O Verão é um senhor gordo, sentado na varanda, suando em bicas e reclamando [cerveja.
O Outono é um tio solteirão que mora lá em cima no sótão e a toda hora protesta [aos gritos: “Que barulho é este na escada?!”
O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina enterrada até os olhos, a manta [enrolada nos queixos e sempre resmungando: “Eu não passo deste agosto, eu [não passo deste agosto...”
A Primavera, em contrapartida — é ela quem salva a honra da família! — é uma [menininha pulando na corda cabelos ao vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro de terra que sobe do chão
o tapa do vento cara molhada!
Oh! a alegria do vento desgrenhando as árvores
revirando os pobres guarda-chuvas
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças
sob as vaias do vento...
Enquanto
— desafiando o vento, a chuva, desafiando tudo —
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida
a alegria da vida!
Imagem: England, Bibury.
Poema: QUINTANA, Mario. Baú de espantos. 2. ed. São Paulo: Globo, 2006. p. 53-4.
Não reclama, não, que sol traz alegria de viver, conecta os neurônios da felicidade, e vc nem precisa de vitamina D./ é verdade que tudo em excesso é ruim, mas seu texto me deu vontade de rever o SOL.
ResponderExcluirFELIZ 2014! (faça sol, faça chuva)
Beijos afetuosos,
Cybèle
Oi William!
ResponderExcluirNão reclame do sol, não. Faz a maior falta quando não aparece. Ele traz alegria via serotonina (ou algo assim), e vc nem precisa tomar vitamina D. Ah, e deixa a pele linda! O seu texto teve efeito contràrio para mim, me deu vontade de rever o SOL!!!
Beijos afetuosos e muito FELIZ 2014 (faça sol, faça chuva!)
esqueci de assinar: o da saudade do SOL fui eu que enviei: Cybèle
ResponderExcluirCybèle,
ResponderExcluirÉ que aqui no Ceará, para a maioria, tempo bom é mesmo o da chuva. Por isso há uma frase antiga muito pronunciada por aqui: "O tempo tá bonito pra chover!".
Quando se vive 365 dias por ano sob um sol escaldante de 35 a 45 graus, sem chuva, uma sombra e um céu nublado são muito agradáveis. Só sabe o que é isso quem sente a pele doer e o calor sufocar todos os dias, rs.
Mas não desprezamos o sol, só torcemos por um sol menos grave, mais simpático, suave; insolação e câncer de pele matam, :-)
Feliz 2014 para você. Alegrias, sorrisos, família unida e bons amigos!
Um beijo carinhoso!