16/03/2009

março 16, 2009
8
Esta semana ouvi uma história um tanto engraçada e que representa bem o estado de nossas repartições públicas. Essa se passa num prédio do INSS. O que esperar quando se escuta este nome?

Um senhor de sessenta anos vai ao INSS para realizar seus procedimentos de praxe, com todo o prazer que sente um brasileiro ao se dirigir a lugares tão agradáveis como são essas repartições públicas. Entra no prédio e caminha para o elevador. Para diante este e espera junto a uma fila de, aproximadamente, seis pessoas. Um minuto, dois minutos, três minutos, quatro, cinco, sete, dez:

― Por favor! ― grita alguém. ― Essa porta não abre, onde está o elevador?

― É cadê o elevador, já estamos aqui há horas e esse negócio num chega?! ― a fila começa a ficar nervosa.

Contudo, finalmente, alguém chega, seja lá quem fosse, e, estranhamente, acreditem, abre a porto do elevador com as mãos, puxando uma para cada lado, mete a cabeça no fosso, olha pra cima e grita:

― Desce esse elevador aí, Geraldo, tá chêi de gente aqui esperando! Desce logo! ― depois olha para a fila e completa: ― Ele já vai descer.

Nosso amigo de sessenta anos não soube o que dizer (Que palhaçada é essa? ― pensa nosso herói. Ela abriu a porta do elevador com as mãos e gritou para o paspalho lá em cima liberar a máquina?! Onde já se viu isso?!). Porém, enquanto isso, o elevador chega piando nos trilhos. A porta se abre, e um homem banhado ― banhado há uns três dias – olha para todos e diz:

― Sobe!

(Tem certeza que isso sobe? ― ainda pensa nosso sexagenário.)

Enfim, todos entraram no elevador, e este sobe direto para o terceiro andar, antes que alguém se atreva a dizer para que andar pretende ir ― isso não é da conta do ascensorista, ao que parece. Depois de alguns roncos a porta se abre: todos estão parados cinquenta centímetros abaixo do piso do terceiro andar.

― Mas o que é isso? ― pergunta um dos tripulantes.

― Este elevador é meio doido, para onde quer!” ― grita o ascensorista.

― Que bom! ― sussurra outro passageiro da caixa de ferro.

― Mas esse prédio é mesmo uma droga! ― ainda outro tem ânimo para sentenciar.

― Isso é um absurdo! ― todos resmungam e alguns resolvem dar o seu jeito de saltar.

Mas alguns têm um problema maior: esse não é o andar onde querem ficar:

― Para o quinto andar, por favor! ― diz uma moça, depois que quatro pessoas haviam saltado, ou melhor, pulado.

― Para o quinto? ― pergunta o ascensorista. ― Menina, só se for para o quinto dos infernos; isso aqui só sobe até o terceiro.

― Até o terceiro? ― pergunta nosso amigo de sessenta anos, enquanto a menina faz cara de bobo-alegre. ― Mas como nós vamos fazer, eu preciso ir ao décimo andar ― continua nosso herói.

― Ao décimo andar? Vixi, vai não! O senhor vai ter que subir as escadas.

― Mas era só o que me faltava!

― O senhor quer dizer ― diz a menina ― que eu vou ter que subir o resto de escada?

― É! ― responde laconicamente o piloto da caixa.

Que jeito? Os dois saltam para o terceiro degrau, como os outros, e subem as escadas. A menina que acompanha o nosso homem nos degraus fica no quinto andar; ele continua até o décimo.

Alguns minutos passados, suado e cansado, nosso herói chega ao décimo andar e avista a sala que desejava – estava a apenas cinquenta metros, no final do corredor (Que ótimo! ― pensa ironicamente, já cansado). Contudo, foi lá e resolveu o que tinha que resolver e...

― Vou descer de escada, os dez degraus ― diz para si mesmo. Estou ficando é velho e não doido. Não entro nesse elevador novamente nem que uma vaca chamada Mimosa apareça na minha frente dançando Cancan com as patas dianteiras e cantando Babalú. Nunca! ― e desce os dez andares, pé ante pé (é que os degraus estão um pouco desgastados, um pouco quebrados, deteriorados, destroçados, na verdade, somente na metade deles ainda se pode pisar).

Fiquei espantado com a aventura: um prédio público no Brasil, nesse estado; como isso é possível? Nosso patrimônio público é sempre tão bem cuidado, tanto pelos governantes como pelo nosso povo. Este deve ter sido um caso isolado, não deve ser sempre assim; o fato de depois, o nosso herói, ter torcido o tornozelo na calçada do prédio, após descer todos aqueles degraus, também foi apenas uma fatalidade. Afinal, isso aqui é o Brasil e não a Suíça; lá é onde essas coisas acontecem, aqui não.


_______________ 
Imagem: Duchamp, Descendo escadas, s/d.

8 comentários :

  1. O Brasil tem déficit porque está pelo menos 50 anos atrasado em relação ao que foi construído, sobretudo na Europa, em termos de se usar o sistema tributário e a previdência como formas de redistribuição de renda. tenho dúvidas, muitas dúvidas, a respeito de como falam do déficit da previdência. Acho que a previdência não tem déficit, a previdência é financiada. O que ela tem é o perfil de distribuição desigual, porque há impostos que na verdade pertencem à previdência e que são utilizados pelo governo de outra forma. Nós vamos,continuar assistindo o filme 'O ELEVADOR'por muito tempo..
    Parabéns! Menino gênio,
    perdoa ,me empolguei (rs),
    bjks
    Mari

    ResponderExcluir
  2. Concordo Lial, não parece o Brasil, este lugar onde tudo é tão justo e certo. E já subi e desci tantas escadas assim.

    Abraço

    ResponderExcluir
  3. Mari,
    Fica à vontade para se empolgar; resolver o Brasil só mesmo com muita energia.
    Um beijo!

    Vanessa,
    Também já tive meus dias de escadas, Onde está o elevador?, Desceu há dois dias e não voltou mais, Deve ter virado à esquerda na rua 24 de maio.
    Brasil, meu Brasil brasileiro...
    Beijo, menina.

    ResponderExcluir
  4. rsrsrsrs Imagine...descaso no Brasil?!Jamais!!
    Isto aqui é o país onde tudo funciona!!
    Agora me pergunto: aonde vai parar o dinheiro de nossos impostos? Acredito, que no bolso de alguns parlamentares como aquele que construiu o castelo...Com certeza,lá "pequena" casa os elevadores devem funcionar maravilhosamente bem!
    E assim caminha a humanidade!!
    Bjus e amei o texto

    ResponderExcluir
  5. Oi willian vagando pelos blogs da internet cai aqui no seu e li seus textos com muito prazer, me divertindo as vezes..parabens pelos escritos, pela forma que achou de demonstrar nosso cotidiano numa narração propia sem deixar de lado a reflexão....

    Espero que um dia visite meu blog

    Ademerson Novais de Andrade

    ResponderExcluir
  6. Lis,
    Não podemos saber onde vai parar o dinheiro que tomam, desculpe, que recebem de nós, temos políticos mágicos, uma hora o dinheiro está aqui, em segundos não está mais; o problema é que eles ainda não aprenderam como fazer na mágica, o dinheiro voltar.
    Um beijo, menina, e obrigado pela leitura.



    Ademerson,
    Obrigado pela visita. Criei essa forma de fazer crônicas da nossa atualidade porque achei mais leve e divertida de se tomar par do que nos ofende e faz rir. Me divirto escrevendo, e esse divertir sempre foi questão essencial para que eu continuasse escrevendo, como tenho feito durante esses vinte e oito anos, mas sem deixar de lado a reflexão, como você tão bem citou.
    Um abraço, e vou visitar sim seu blog.

    ResponderExcluir
  7. Olá!

    Indiquei um selo para seu blog, fique a vontade para pegá-lo, mas sinta-se homenageado por mim essa é a intenção ok?

    beijos

    ResponderExcluir
  8. Cristiane,
    Obrigado pelo carinho, menina bonita, aceito o selo com prazer e me sinto sim homenageado por você.
    Um beijo!

    ResponderExcluir

Voltar ao topo