28/12/2008

dezembro 28, 2008
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Será julgado no dia trinta e um deste mês de dezembro o intrépido jornalista iraquiano, Muntazer al-Zaidi, atirador de sapatos que tentou acertar a cabeça do ainda presidente estado-unidense, George W. Bush. Que coisa horrível, que sacanagem, não concordam? Como é que ele fez aquilo, jogar dois sapatos na cabeça de um chefe de estado, como é que aquele mão torta errou? Como ele pode cometer uma atrocidade daquelas, errar aquela cabeça? Joga-se dois sapatos e erra-se os dois?! O que há na cabeça do Bushizinho que a torna tão difícil de acertar? Quantas pessoas no mundo não estariam felizes agora se o mão tangencial tivesse acertado o alvo! A vida é assim, nem sempre se consegue um bom motivo pra sorrir. O pior é que agora já pode não haver mais tempo para outro tentar concertar o erro deste; o presidente já vai embora e ninguém mais poderá acertar o sapato que o outro, tão irresponsavelmente, errou. Já imaginaram se aqueles sapatos acertam?

― Está tudo bem, senhor presidente?

― Está tudo bem, nem doeu, ai ai! Talvez um pouco!

― Senhor presidente, sua face presidencial está ficando roxa.

― É mesmo? Poxa vida, por que aquele idiota fez isso, eu sou um exterminador de oriental-medianos tão eficiente, sou tão bom.

― É verdade, senhor, tem gente que não sabe reconhecer.

Teria sido hilariante, mas c’est La vie!

Eu também soube que um egípcio ofereceu sua filha para casamento com o iraquiano atirador, e a moça, não pensem vocês que desgostou da idéia, penando coisas do tipo, “Essa sociedade machista, não pode ver um atiradorzinho de sapatos que vai logo oferecendo a gente”, não, não, não, nada disso, Amal Saad, a ofertada, confirmou que aceitava, dizendo “seria uma honra. Eu gostaria de viver no Iraque, especialmente se eu tivesse ligada a este herói". E antes que pensem “Deve ser uma pobre coitada, analfabeta, sem cultura”, ela é estudante de mídia na faculdade Mynia, no Egito. O pai também não é pobre, disse ao irmão do atirador que estava pronto para pagar o casamento, deixando claro que oferecia a filha por que era o que tinha de mais valioso. Em resposta a oferta, disse a Reuters, que o jogador de sapatos não foi claro.

Procurei saber qual foi o resultado do julgamento, mas não encontrei resposta. Agora só nos resta torcer para o mão torta não sofrer muito pela sua cegueira. Mas tenho que confessar algo a vocês: algo me diz que o motivo do jornalista errar o lançamento dos dois sapatos foi o chulé, talvez não suportou o seu próprio cheiro no momento em que levantou os sapatos a altura do rosto para lançá-los, e, inebriado, errou o alvo. O rapaz deve ter passado horas esperando a hora certa para o seu momento olímpico e isso deve ter provocado algum efeito nos seus “pisantes”, como diria um garoto que conheci uma vez. Paciência!

Esqueçamos isso, vamos embora, é fim de ano e tenho ainda que lavar meus pés.




Pintura: Renè Magritte, O modelo vermelho,1953.

3 comentários :

  1. Uma crônica comhumor fino: o essencial desse modelo textual. Você conseguiu prender a leitura até o fim, meu caro.Isto é bom. E foi mesmo uma pena ele ter errado o alvo. Eu so um dos que queria que ele acertasse o Bushinho.

    Abraço forte, Lial.
    Continuemos...

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  2. Viu só, foi excesso de otimismo por parte dele. Se pensasse no pior, acertaria! Ainda acho que ele pensou "positivo" antes de jogar kkkk É o tipo de ato fracassado que depois tem que dizer: "foi só brincadeirinha" rss

    Ficou muito legal este texto, o segundo parágrafo, beeem interessante. Queria eu receber ofertas "valiosas" como ele recebeu, aqui no Brasil, mas acho que iam confundir com tráfico de mulheres, né? E se fosse uma "poposuda", o alarde seria ainda maior! rss Melhor deixar quieto, então, assim não tenho que treinar para acertar nenhuma personalidade importada.

    Um abraço.
    Marcelo.

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  3. É, meu querido, ninguém nunca me ofereceu uma mulher de presente; também nunca atirei nada em gente famosa.

    Obrigado por vir aqui mais uma vez, gostei que tenha gostado.

    Um abraço!

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