17/12/2008

dezembro 17, 2008
1

Tenho ouvido muita gente dizer “Vai com calma, escritor, dessa vez você extrapolou”. É verdade, extrapolei: escrever um romance inteiro em um mês, trabalhando cerca de dezesseis horas por dia, sentado, é meio louco – meio louco! Minhas costas que o digam, tive que ir a uma emergência médica tomar antiinflamatório na veia e fazer dez seções de fisioterapia para curar o estrago. Mas não foi nada demais, apesar das setenta horas de dor. Entretanto serviu para alguma coisa: não vou mais extrapolar, dou-me a minha palavra me olhando no espelho.

Todo vício é prejudicial, de uma forma ou de outra, por isso é bom controlar o seu. Ah, não tem um?! Bom pra você – eu acho! Sou viciado na escrita: em escrever, em ler, em entender o que é escrito. Sou daquele tipo que tem idéias nas horas mais inusitadas. Calma! Não seria capaz de abandonar uma mulher na cama para escrever – se alguém pensou nisso –, coito interrompido não faz parte dos meus prazeres. Eu não chegaria a tanto. Já pensou numa situação dessas:

― Querida, espera, espera, ai, espera, tive uma idéia.

― Mas que idéia?

― Uma idéia para o livro.

― Para o livro, agora? Mas eu estou em cima de você.

― Ah amor, vai demorar só um minutinho, eu só preciso escrever uma frasinha, só isso.

― Uma frasezinha, seu doente? Uma frasezinha?

― Oh amor, eu volto logo!

― Volta logo? Vai-te a merda!

Seria uma loucura, não seria? Eu não faria isso. Quanto ao resto... tenho que pensar. Certa vez, minha amiga Andréa me mandou um cartão dizendo que

para saber o que é loucura, a gente tem que entender primeiro o que é ser normal; e isto, ninguém conseguiu definir até hoje. Mas uma coisa é certa: um pouco de maluquice faz parte da normalidade... e ser normal demais é o mesmo que ser muito louco.

Será que, nessa altura de nossa amizade, ela achava que eu era alguma espécie de louco? Não sei não!

Este ano, mal havia acabado de revisar o meu livro Genealogia de outono e já havia começado a escrever o novo romance (meu quinto livro); o que fez com que eu passasse meses e meses, sentado, trabalhando, já que emendei o trabalho de um no outro. Mas o que estou dizendo: passei meses? Ainda estou passando; me encontro agora revisando o romance, cortando aqui, aumentando um pouco ali, muito pouco – normalmente cortamos mais que aumentamos. Faltam alguns dias para acabar essa etapa. Minhas costas agradecem.

Preciso ir, falaremos outro dia sobre esses livros. Tenho que voltar a minha revisão. Ando rindo sozinho sempre que revejo meu protagonista: criei um personagem um tanto desequilibrado para esse novo livro.

Agora vão, curtam o dia! 




Imagem: Gustav Caubert, Baudelaire, 1848-49.

1 comentários :

  1. William, como a maioria das mulheres (não todas claro), sou curiosa e já estou deveras enlouquecida para conhecer esse tão hábio protagonista que tem lhe feito rir sozinho.
    Quanto a promessas para si próprio no espelho... Não sei não, mas creio ser um pouco insano, mas isso imagino que todos nós somos um pouco.

    ResponderExcluir

Voltar ao topo