17/03/2015

março 17, 2015
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Garota numa mesa semicircular
Nem todas as suas pinturas do dinamarquês Peter Vilhelm Ilsted possuem tanto ar de silêncio, mas a grande maioria sim. Atrevo-me a dizer que até mesmo as que pretendem conversas, como em “A celebração” (aqui abaixo), trazem em si um certo silêncio de modos. Assim, há quase sempre, ou sempre, um silêncio na pintura de Peter Ilsted. 
A celebração

Procuramos uma expressão de voz, de tentativa de voz, mesmo de movimento, mas nada! É silêncio e imobilidade física. Digo física porque vejo a ideia de um movimento interno, intelectual, o que por sua vez expõe para aquele que olha melhor, uma vida interior, uma ação interior.

Uma garota lendo em um interior

Normalmente os personagens de suas pinturas estão quietos, sentados, imóveis, mas lendo. Impossível, com um pouco de observação, e porque não de imaginação, afinal de que vale olhar um quadro se nada imaginar nele, enfim, impossível com um pouco de observação não sentir que as personagens sentem, que não estão verdadeiramente inativas, estáticas, estão pensando, estão lendo, estão em alguma espécie de ação intelectual.

A porta aberta

E esse mistério interior, essa vida misteriosa interior nos atrai e podemos nos ver como observadores diretos dessas personagens, como se estivéssemos também presentes na pintura. Somos os olhos, aqueles que as vê, que vê o homem sentado do lado de fora lendo, a moça de costas diante a mesa semicircular, somos aquele está no mesmo quarto, talvez à porta, da moça que lê encostada na cadeira alta, ou estamos no jardim olhando a jovem sentada na entrada lendo um livro sobre as pernas. Estamos lá, estamos todos lá, nós e as personagens silenciosas; e estamos também em silêncio porque no retrato da vida que Peter Ilsted desenha, nós também somos personagens, nós somos os personagens.

Garota lendo na porta de entrada

4 comentários :

  1. Somos, sim, silêncio, mas a leitura dialoga conosco .Observemos as luzes que se fazem lentamente nos ambientes das pinturas, ou nos espaços onde lemos. É vida que nos chega através da leitura, são os sussurros do outro. Obrigada por trazer Arte ao meu silêncio, Lial!

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  2. Obrigado pela leitura e pelo belo comentário, Elô!

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  3. Só há uma pintura mais silenciosa, a de Edward Hopper, que dedicou a vida a retratar algo além do silêncio, o vazio.

    Belo comentário Lial.

    W. J. Solha

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  4. Obrigado pela visita, leitura e comentário, Solha.

    Sobre o Hopper, é verdade, vai além do silêncio e chega ao vazio. Gosto muito dele também.

    Abraço!

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