02/09/2013

setembro 02, 2013
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Era a tristeza de homens tristes
que a procurava;
quer velho,
quer jovem fossem.
Eram homens órfãos do dia
a irmanarem-se à noite.

Era a dor deles
que ela abrandava:
sua fome de euforia,
sua ânsia de sorriso louco
e a glória egocêntrica.

Era em seu sorriso
que eles regozijavam-se;
em suas coxas,
em seus seios,
em suas mãos e boca.

Era no dia dela
que a noite deles terminava,
naquele quarto vermelho,
naquelas almofadas bregas,
naquele calor lascivo.

Era ela, naquele lupanar,
a cortesã dos seus beijos:
os únicos recebidos
e não roubados: comprados.

Era ela a mulher “depravada”,
ignorada, mas não largada.
Era todo o mal e todo o bem,
era a sua vergonha,
era o seu prazer.

Era ela a fêmea:
doce, perfumada, temida e desejada.
Único ouvido de suas lamentações,
única voz atenciosa de seu âmago.

Era ela,
a prostituta.




Poema extraído do meu livro Noturno, editora Imprece, 2003. p. 63
Imagem: Jean-León Gérôme. Friné devant l'Areopage. 1861. (Friné era Mnesarete, seu verdadeiro nome, mas devido à sua tez amarelada, foi chamada de Friné (Sapo), apelido dado por outras cortesãs. No Brasil também é conhecida como Frinéia. Nasceu em Téspias na Beócia, mas acredita-se ter vivido em Atenas, cerca de 400 A.C. Foi uma mulher de extraordinária beleza, tendo ficado muito rica por isso, a ponto de oferecer-se para reconstruir os muros de Tebas, destruído por Alexandre. Também foi inspiração de quadros famosos, como o acima, óperas, filme e poemas como o de Olavo Bilac "Sarças de fogo").

4 comentários :

  1. Clima de alcova, cheiro de mulher. E a contradição do egocentrismo masculino e a dor de ser só, de carícias compradas. Parabéns, Lial!

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  2. Boa leitura, Kakita. Detalhista, sensível.

    Obrigado pela leitura e pela Leitura, rs.

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