19/08/2013

agosto 19, 2013
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Enquanto eu caminhava numa pinacoteca da cidade ouvi dois garotos que lá estavam, aparentemente, por ordem de uma excursão do colégio. O mais jovem deles, parado de frente a um quadro de pintura abstrata diz:
— Bonito isso aqui, hein ma?!
— O quê? — pergunta o outro, voltando-se para o quadro que o colega apontava.
— Massa né, ma! — repete o mais jovem.
— Isso aí? Aí só tem risco, ma! Qualquer doidin faz isso aí, tu é doido é?! Maior paia!
— Tu num entende nada de arte, tu, ma!
— E tu entende, tu? Olha pra essa besteira aí e diz que é arte, um monte de risco véi desse, ma!
— Mas é legal, ma! É pra decorar as coisa na sala! Eu acho legal, eu!
— Tu sabe de nada, ma! Vamo embora vê se tem alguma pintura de verdade aqui que é melhor! 
— Tu é besta, ó!
— Besta é tu que fica achando bonito essas coisa aí! Até minha irmã de três ano pinta isso, doido!

E como o mais jovem ficou calado, os dois saíram em busca de um quadro que convencesse o mais velho.


OBS.: O português dos protagonistas foi mantido por respeito a seu dialeto. Em caso de reclamações por isso ou por alguma declaração sobre arte dos garotos, o telefone do Papa é 379 – 7777777777777777.

In: William Lial, Prosas de observador.
Imagem: Antonio Bandeira, Cais noturno, 1963.

6 comentários :

  1. William, fantástico! Como sempre. Abs. Roberto

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  2. Beleza, Lial. Flagrou bem.

    Solha

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  3. William, você é ótimo! É isso mesmo, trabalhei com jovens e eles são fantásticos em suas observações e discordâncias. rs

    Abraços! Sonia Salim

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  4. É Sonia, talvez sejam mais diretos.
    Obrigado pela visita!

    Abraço!

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