22/09/2012

setembro 22, 2012

Hoje, andando pela minha cidade, vi algo que me deixou impressionantemente deslumbrado, sensibilizado, tomado de uma emoção incognoscível. Na rua que circunda uma de nossas praças, uma das mais famosas da nossa terra do sol, praça redonda, Praça Portugal, que centraliza uma giratória, nessa rua, enfim, alguns buracos chamaram-me atenção.

A parte da rua que circunda a praça é totalmente composta de paralelepípedos; quer dizer, era totalmente composta de paralelepípedos, pois algumas das pedras foram retiradas para servirem de apoio a cartazes de candidatos nas atuais eleições, ou seja, as pedras foram retiradas da rua para serem colocadas, estrategicamente, nos pés dos cavaletes que exibem esses cartazes para, possivelmente, não permitir que os mesmos caiam com a força do vento que insiste em desrespeitar os pretensos futuros vereadores, empurrando suas propagandas ― o que, por sua vez, se configuraria num profundo desrespeito por parte do vento!

Mas afinal, por que essas pedras, esses paralelepípedos seriam mais necessários como piso da rua do que como encosto para os cartazes? O que são alguns sacolejos no carro, quando se passa pelos buracos, diante da necessidade de se manter um cartaz de pé? Você não vai ficar com raiva desses candidatos só por que seus paus-mandados, digo, seus cabos eleitorais, esburacaram, sem nenhum escrúpulo, a rua por onde você passa, vai?

Pense no quanto seria assustador você estar passando pelo lado da praça quando de repente ouve um barulho, um estrondo causado pela queda repentina de um dos cartazes no chão, derrubado pelo vento. Isso seria muito perigoso, você poderia bater o carro, subir à calçada e atropelar alguém, perder de vista a moça bonita de microssaia extracurta como um cinto ― sinto muito por não ter mais pano ―, que passa deliciosamente pela calçada oposta ao inconveniente cartaz que caiu sem ser chamado ao solo. Já pensou? Imagine se no exato momento em que você pisca o olho para a jovem madame que lhe paquera da rua, o vento espanca um desses cartazes e um trovão lhe assusta tanto que seu piscar de olhos para essa jovem madame mais parece um ataque epilético-esquizofrênico-pós-ácido? Amigo, amigo, pense bem, seria o fim dos seus dias de paquerador. Graças a esses rapazes que essas pedras estão nos pés dos cartazes!

Não pense que elas foram colocadas lá com outro propósito que não o seu bem-estar, não seja maledicente, inescrupuloso, insensível, sem amor no coração; ainda existem pessoas boas no mundo. Que sorte a sua!

Por isso quero deixar aqui meus singelos parabéns aos escavadores de rua que pensam em nosso bem-estar, em nossa saúde mental, e não permitem que o vento, parceiro medonho dos cartazes que caem pela cidade, nos cause um enfarto de susto à Hitchcock, com risco de provocar um acidente de grandes proporções na escala Richter. Obrigado! A gentileza de vossas almas piedosas jamais será esquecida.



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Imagem: Pintura em 3D, no chão, do artista de rua americano, Kurt Wenner.

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