07/12/2011

dezembro 07, 2011
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Vivemos a era digital. Alguém vai ao restaurante, almoça, gosta do que comeu, e fotografa o prato e o cardápio para saber o que pediu e repetir da próxima vez. Vai comprar um vestido, experimenta vários, fotografa e leva às amigas para decidirem juntas qual o melhor. Quer comprar um carro: fotografa aqueles de que gostou no estacionamento do shopping ou na revendedora e leva as fotos para mostrar aos amigos e escolher com mais calma qual irá comprar. Vai fazer uma prova, gostou tanto dela que quer guardar? Não, não, aí não! Fotografar a prova pode lhe gerar um zero oblongo! Então, nesse caso, é melhor esquecer.

Tudo isso vem acontecendo ultimamente no nosso mundo digitalizado. Muitos trocaram as listas de afazeres escritas à mão por registros em máquinas fotográficas de celulares. Então eu pergunto: você ainda sabe escrever manualmente, caligraficamente, sem o auxílio de aparatos digitais? Muita gente não sabe mais. É tanta dedada para cá, dedada para lá que a escrita tradicional está sendo esquecida pelas novas gerações.

Quanto aos exemplos mostrados aqui, como o do carro e o do vestido, eu entendo o uso da fotografia, mas será que a moça que vai ao restaurante e gosta do almoço que acabou de comer não poderia simplesmente escrever o nome do prato ao invés de fotografar o cardápio? Isso ocorre por praticidade, preguiça ou influência dos tempos digitais?

Algumas, ou várias, pessoas não escrevem mais. Tudo precisa passar pelo computador ou pelo minúsculo teclado do celular: carta, bilhete, lista de compras, lista de afazeres domésticos, lista das mulheres com quem o rapaz se deitou no mês, lista dos quarenta e três homens que a guria beijou na balada de ontem, lista de quantas vezes disse a palavra “assim” numa conversa – “É, ontem eu saí, mas, assim, foi legal. Lá no bar, assim, foi bom, o Astrogildo... assim... ele disse que me deseja... assim” –, lista de quantas vezes alguém com cara de pastel fez aquele coraçãozinho com as mãos... enfim,  todas essas listas e missivas escritas à mão.

Agora os modernos escrevem tudo no celular ou no ipad (pede sim!). Usar caneta, lápis, lapiseira “É o ó!”, diria o fresco com cara de champignon, enquanto outro, com cara de buldogue, torcendo a boca para o lado do nojo e com um leve tremor nos nervos de asco do pescoço diria “Que coisa mais démodé”. Tudo isso pode querer dizer que, no mundo moderno, se você escreve usando lápis ou caneta, essa forma ultrapassada, medieval, você não é escola de samba, mas esqueceu de evoluir.

Porém, como fazer quando faltar energia e a bateria do computador, ipod (não pode!), iped (não pede!) e celular tiver acabado? E então, como recorrer à escrita convencional se essa simples prática não lhe pertence mais?

Não é que não se deva usar a tecnologia, é claro que se deve, até para os professores criaram quadros digitais, como aqueles da TV que falham de vez em quando. Acho ótimo que o professor possa mostrar imagens no quadro que ficarão bem mais entendidas do que se simplesmente escrevesse sobre elas – com o agravante que o professor poderá ter mais trabalho em casa para elaborar essas aulas visuais –, vejo com bons olhos a possibilidade de fotografar o carro de que gostou, a paisagem fenomenal, o instante que quer guardar, usar a agenda do celular para se lembrar dos afazeres etc., mas que tal se, ao lado disso, não nos permitíssemos perder a faculdade de escrever usando a mão e uma caneta? Que tal se conservássemos essa técnica "rústica" de comunicação que deu início a toda a forma de escrita que temos hoje?

Enfim, eu sei, escrever muito pode cansar. Mas usar demasiadamente o teclado pode causar tendinite, por exemplo. Então por que não, uma vez ou outra, pegar a velha caneta, o velho lápis ou lapiseira, e escrever alguma coisa para si ou para alguém? Daqui a pouco nem autógrafo se escreverá mais, ele será adicionado digitalmente com a dedicatória no seu ipad (se pede!) ou no ipod (se pode?); dedicatória que poderá vir com a opção oral na voz de Darth Vader: “Com o abraço do lado negro da força!”. Fosforescente como o laser do sabre de luz, claro!



Imagem: Daniel F. Gerhartz, Writing home, s/d

5 comentários :

  1. Sou totalmente a favor da boa caligrafia. Revela tanto sobre quem escreve, não é? Um texto digital jamais terá tal personalidade. Fora o fato de que, quando você escreve manualmente, você assimila melhor as coisas. Enfim, só vejo vantagens... Muito bom, Will!!

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  2. Minha letra é tão esquisita, que é confundida com escrita árabe; nem o velho caderno de caligrafia conseguiu salvar-me! Por isto, em tempos de tecnologia, faço o seguinte: quando escrevo para os outros (na grande maioria das vezes), faço tudo em um teclado de computador (como este, em que digito agora); mas quando escrevo para mim, pego a minha charmosa caderneta e faço dela uma espécie de "diário-pensamento" (quase um twitter à mão)- mesmo que eu não compreenda a escrita árabe, ao menos a minha letra está grafada ali.
    Um beijo, um queijo e o quê mais rimar.
    Bruna :)

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  3. Arlene, obrigado! Eu também acredito que pode haver uma melhora na assimilação quando se escreve manualmente.

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  4. Bruna, pelo menos você continua escrevendo manualmente, mesmo que só para você. Mas depois você não consegue mesmo entender o que escreveu? É tão árabe assim, não dá para ficar pelo menos húngara?

    قبلة (um beijo, em árabe - espero que esteja certo!)

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  5. Se eu não conseguisse entender nada do que eu mesma escrevi não seria árabe, mas talvez, chinês...hehehe Entender eu entendo, mas digamos que em alguns momentos, falta-me o vocabulário (às vezes eu confundo o s, com o r, com o m, com o n).
    É isto aí!
    Beijos

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