23/07/2010

julho 23, 2010
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― Ei, olha por onde anda!

― Eu olharia se pudesse ver.

― Desculpe, não sabia que você era cego.

― Depois o cego sou eu. E eu não sou cego, sou deficiente visual, seu pulha!

― Espera, do que você me chamou?

― Pulha.

― Vê-se-tem-mais-respeito, cego-duma-figa!

― Não vou ver se tenho mais respeito coisa nenhuma; sou deficiente visual, seu idiota!

― Deficiente visual uma droga, você é cego!!!

― Imbecil!

― Cara, se você não fosse cego, você ia ver...

― Ia ver você apanhando.

― Olha como fala comigo!

― Não vou olhar nada, eu não vejo, seu bosta!

― Ah, cego filho da puta! Toma essa!

― Aaaai!!! Seu desgraçado, você me deu uma rasteira!

― Viu só?!

―Não, não vi, mas senti. Como queria que eu visse?

― Ceguinho, ceguinho, você é um pé no saco!

― Ceguinho é a mãe, eu sou deficiente visual, já disse!

― Ou seja, cego.

― Ah, desgraça! Vem aqui, vem aqui pra eu acertar uma bengalada nas suas fuças, seu ignorante de merda.

― Lá vamos nós de novo.




Imagem: Pieter Brugnel (O Velho), A Parábola dos cegos. Ilustra a passagem de S. Mateus: “Quando um cego guia outro cego, ambos caiem no abismo”.

6 comentários :

  1. Esse seu ensaio sobre os cegos eatá mto bom mesmo!!! Abraços sylvia

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  2. Obrigado, Sylvia. É só para divertir um pouco Um abraço!

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  3. William , grata pelas explicações no facebook E , desculpe minha tamanha ignorância!!! Abraços! Syl

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  4. Sylvia, o que é isso, não tem nada de ignorante. Aquela é mesmo uma frase complexa.

    Um abraço!

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  5. Vejo muita semelhança conosco, a humanidade de hoje. Um míope para algumas coisas,para a educação,por exemplo, vendo-se às voltas com um cego. Esse fisica e também educacionalmente cego, tentando responder e defender-se à altura (ou seria à baixaria?) do outro. O mundo de hoje me parece assim: cegos, míopes, caolhos morais, digladiando-se por ninharias morais ou ofendendo-se cegamente. Estaríamos regredindo à barbárie?

    No Facebook, que eu considero uma imitação eletrônica da vida, se prestarmos atenção veremos isso: essa luta incessante entre cegos, motivada por nada que valha a pena.

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  6. O mundo anda assim mesmo, Kakita. E a barbárie está a nossa porta.

    Obrigado pela leitura!

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