05/07/2009

julho 05, 2009
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Vejam só, os anos passam, mas o mundo continua fazendo o seu barulho. Eu, aqui, agora, sentado, ouvindo a 5ª de Beethoven, transcrita para piano, sob as mãos de Glenn Gould, percebendo essa harmonia, me pego pensando no silêncio. A força das notas fortes do primeiro, e mais famoso, movimento, não agride, não assusta, é apenas forte; diferente da força aí fora, que é mais que força, é barulho. Porque os séculos passam e o homem continua no seu barulho ensurdecedor. Passamos por revoluções, revoltas, luta pela liberdade através da prisão e imposição do mais forte – liberdade através da prisão, isso é possível? Muitos já acharam, ou acham, que sim. E também tivemos guerras – oh como tivemos guerras! Oh como ainda temos guerras! –, tivemos toda sorte de contratempos, nós contra nosso próprio tempo, praticamos todas as arbitrariedades impossíveis – sim, impossíveis; seria errôneo dizer “arbitrariedades possíveis e impossíveis”, já que toda arbitrariedade é errada, portanto, deveria ser impossível.

Mas você pode estar agora se perguntando “O que ele quer dizer com toda essa oratória?”. Quero dizer que, a verdade, é que já vivemos muito e parece que não aprendemos nada sobre a paz e a liberdade. Não paramos com as intrigas, não paramos com a inveja, não paramos com a cobiça, não paramos com a avareza, não paramos com a gula, gula por tudo o que vemos e acreditamos ter o direito de possuir, não paramos com nossas guerras, nem as pequenas, pessoais, nem as grandes, catastróficas. Será que não tivemos lições suficientes? Parece que não, em pleno século vinte e um temos uma Coréia que solta mísseis no dia do aniversário norte-americano apenas para “zoar”, apenas por pirraça, feito um menino que diz “Vai vê só, abestado, como não tenho medo de você”; temos o Irã que parece ter tomado a eleição no tapa, e seu superior, o Aiatolá, que de homem superior parece não ter nada, já que admite a fraude, mas diz que não vai anular as eleições; e por fim, temos outro em Honduras que acha que o governo está agindo contra a constituição e, ao invés de procurar resolver tudo de forma democrática, prefere juntar-se ao exército, expulsar o presidente e tomar o poder pela força, contra seu próprio povo e o mundo, ainda acabando com os direitos constitucionais de sua população – o pior é que havia reclamado do presidente expulso por agir de forma inconstitucional. O incrível de tudo isso é que todos agem contra o seu povo, pessoas que estão no poder e têm os seus salários pagos por esse povo, afinal é ele, com seus impostos, quem paga o salário dos governos e das forças armadas, o que quer dizer que, na verdade, eles trabalham para o povo, o povo é o seu patrão, e não o contrário; mas é ao contrário que o mundo vive. Observem só o nosso Sarney, ele e toda a família, vivendo as nossas custas e ainda nos libertando do peso de nosso dinheiro com suas, já acreditáveis, mãos leves:

― Opa, ninguém é fantasma aqui, eu não contratei ninguém ilicitamente.

― Mas onde estão as decisões, senhor presidente, que não foram publicadas?

― O gato comeu! O bichinho tava com uma fome, rapaz.

É, parece que gostamos mesmo é de barulho, quanto maior, melhor, os outros é que se danem; o problema é que também somos os outros. Mas vou parar por aqui, Glenn Gould já vai terminar sua apresentação, e eu vou aproveitar para terminar a minha. E se verem o grandioso poeta Sarney por aí, ou seus filhos, dêem meus parabéns a eles pelo maravilhoso trabalho; eles merecem.




Imagem: Pablo Picasso, Guernica, 1937. Quadro medindo 350 por 782 cm, que mostra a reação de Picasso a um acontecimento específico, o bombardeio da antiga capital basca de Guernica pelos aliados alemães de Franco, em abril de 1937. Ataque sem sentido, já que a cidade nada tinha a ver com a guerra. A imagem mostra a desumanidade do homem contra o próprio homem. Atualmente se encontra no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid. Clique na imagem para vê-la em tamanho maior.

1 comentários :

  1. Ah,Menino gênio!!!
    assim não vale,demorar tanto tempo pra postar,me encher de ilusões imaginarias ouvindo a Paz em som de piano,e ai subitamente leio tantas calunias? a maior delas contra o Sarney e sua prole tão bem intencionada,Fala sério !!!.sou um personagem inocente!
    Obrigada pela visita adorei,estou feliz com tua volta,continue assim ácido(porém inteligentemente doce)
    Muita saúde e boas energias,
    Mari

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