09/01/2009

janeiro 09, 2009
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Não é tarefa pequena publicar livro no Brasil, entretanto, como não publicar se, por algum motivo estranho, você não se sente bem quando seus escritos dormem numa gaveta?

Talvez seja o orgulho que provoca essa exposição, talvez seja a inexplicável esperança, talvez a paixão que não lhe deixa descansar. Mas há aqueles que descansam. Sei de escritores que penduraram as chuteiras, que largaram as letras para se dedicarem a outras coisas; existem até aqueles que se autodenominam “ex-poeta” ou “ex-escritor” e os que dizem “Sou um escritor aposentado”. Quem sabe se um dia eu também não canso de bater a cara contra o muro, dou meia volta e sigo outro rumo?! Talvez, mas isso é difícil, no que diz respeito à Literatura, tenho a “triste qualidade” da teimosia – viram só, tenho até o costume de escrever Literatura sempre com letra maiúscula. “Doente!”

Durante esses anos todos que escrevo minha doença só aumentou: parece que cada vez pratico escrevo mais, até na internet passei a escrever, quando antes só se encontrava textos de outros sobre mim, ou textos de livros meus espalhados por blogs e sites, para onde escrevo ou não. Agora estou aqui, digitando pra mim e pra vocês.

Contudo há o outro lado, há o lado de leitor, o meu lado de leitor. Escrevo desde os oitos anos, quando ganhei um concurso de Literatura, e nesse período também me entreguei à leitura: escrevia e lia, lia e escrevia, “Oh rapaz, vai passar o dia aí com esse livro?” indignava-se meu pai. Já adulto, na faculdade, “E então Lord, vamos sair ou vamos ficar lendo o décimo livro do mês?” me perguntavam os amigos que me deram esse apelido em nome do meu jeito... bem, deixa pra lá! É mais difícil abandonar a escrita quando se ama muito a leitura, então continuo com as duas. Olha a cadeira que vou comprar pra mim:

Mas e você? É, você que está aí, sentado, me lendo, pensando se tenho razão ou sou mais um daqueles doentes ratos de livraria? “O que é que eu ganho com isso, rapá, fico sabendo da vida dos personagens e conhecendo palavras bonitas e estranhas que nunca vou usar, maluco?” você me pergunta. Ora, ora, ora, meu caro incauto, minha cara incauta, você ganha bem mais que o conhecimento da vida de personagens e de palavras bonitas, ou feias, ganha a capacidade de ilustrar seus sonhos, de se comunicar, de saber melhor o que dizer, de ver o mundo com outros olhos, olhos mais aguçados, mais sensíveis, e, é claro, claríssimo, o prazer de se divertir com a leitura; sim, se divertir, pois até lendo uma obra existencialista de Camus – que é maravilhoso! – você se divertirá; mas antes de tudo descubra que tipo de leitura lhe faz feliz, lhe dá prazer, lhe faz mergulhar num outro mundo, e mergulhe. Ah, você têm dificuldade para nadar, e mergulhar é ainda pior?! Calma, calma, você não é um mergulhador profundo como Jorge Luis Borges ou Dom Quixote? Você aprende; lembra do meu texto anterior, "Eu tenho o cérebro!!!”? Pois é, todos temos capacidade de aprender, garanto que um dia você não vai mais querer parar de mergulhar.

Já sei! Comecei falando de mim e minha paixão e acabei lecionando. “Seu doente!” você repete, e eu lhe digo Não! Sou são, completamente são. Oh Maria, onde está aquele livro que lhe pedi, vossa malvadeza, já acabei este aqui há mais de três minutos!, brincadeira, também não precisa, nem deve ser assim; todo excesso é veneno, pois o veneno está na dose.

É óbvio que existem outros assuntos além da Literatura que devem ser lidos, eu mesmo adoro outros: Filosofia, História antiga, Mitologia etc., mas agora queria falar daquela que é meu “prazer e ofício”, como dizia Carlos Drummond. E pronto, já falei!

E você, o que gosta de ler?




Gravura: Gustave Doré, Dom Quixote em sua Biblioteca.
Imagem: Bibliochaise, cadeira projetada pela firma italiana Nobody & Co., apresentada pela primeira vez no Salone del Mobile em 2006, na cidade de Milão.

3 comentários :

  1. William, quem realmente gosta do que faz sempre dará um jeito de ter prazer com isso. Eu penso que, mesmo não estando no ofício que tanto se almeja, que pelo menos seja possível explorá-lo em outras situações.

    Claro que cada caso é um caso, mas cabe a nós fazermos do caso uma causa "ganha" ou "perdida".

    Agradeço aos meus professores de colégio (e da minha dedicação também, óbvio), por ter aprendido a linguagem da FALA: a comunicação escrita, oral, visual etc.

    Por conta disso, tive a ideia de pôr no blog alguns textos que eu escrevia nesta época e que era um dos passatempos que eu tinha antes da irresistível internet me dominar!!! rsss

    Mas, respondendo à pergunta que encerrou a postagem, o meu gosto PRINCIPAL (não é o único) está neste post: LEITURA

    Partindo para o ambiente virtual, estou mais engajado em ler blogs (de diversas categorias), que notícias via sites de praxe. Desta forma que encontrei o teu também...rss

    Adorei a cadeira da foto! Assim que a vi, pensei: "Quando eu crescer vou querer uma cadeira igual a esta" rsss

    Depois dê uma passada lá no meu blog, pois tem um selo para você.

    Um abraço.
    Marcelo.

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  2. No meu caso, acabei criando uma predileção feroz pelos russos (especialmente Dostoievski), por Goethe e por Kafka. Veja só como a Editora 34 me fez tão feliz nos últimos tempos! :)

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  3. Também sou grande fã dos russos, Germano, como lhe falei esse fim de semana. A editora 34 é nossa salvação.

    Ave 34!!! Ave 34!!!

    Um abraço, meu amigo e obrigado pela resposta.

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