Por ter lido muitos livros bons neste ano de 2009, fica mais difícil apontar qual o melhor, mas tem um que me chamou muito atenção e, portanto, pode ser considerado o melhor que li neste ano; trata-se do livro A misteriosa chama da rainha Loana, do italiano Umberto Eco.
Nessa ficção autobiográfica, Eco faz uso de um alter ego para contar a história, usando um senhor de meia-idade, morador de Milão, livreiro de nome Giambattista Bodoni, conhecido como Yambo.
Após quase morrer vítima de uma doença grave, Yambo perde parte de sua memória afetiva, ou biográfica, esquecendo-se de muita coisa relacionada à sua vida, como sua família e a si mesmo. Mas apesar da gravidade do caso o personagem não perde a piada: “...Alzheimer? O bom é que todo dia se encontra um monte de gente nova...” (p.48), diz ele, lembrando-se de uma velha piada, enquanto toma um sorvete de flocos, feliz por estar, aos sessenta anos, descobrindo um novo sabor, graças a sua perda de memória.
Assim, esquecido, névoas é tudo que vê diante de si, e isso é representado em várias partes do romance através de metáforas que ilustram bem esse fato, como em: “a névoa chega sobre pequenas patas de gato” (p.10).
Após quase morrer vítima de uma doença grave, Yambo perde parte de sua memória afetiva, ou biográfica, esquecendo-se de muita coisa relacionada à sua vida, como sua família e a si mesmo. Mas apesar da gravidade do caso o personagem não perde a piada: “...Alzheimer? O bom é que todo dia se encontra um monte de gente nova...” (p.48), diz ele, lembrando-se de uma velha piada, enquanto toma um sorvete de flocos, feliz por estar, aos sessenta anos, descobrindo um novo sabor, graças a sua perda de memória.
Assim, esquecido, névoas é tudo que vê diante de si, e isso é representado em várias partes do romance através de metáforas que ilustram bem esse fato, como em: “a névoa chega sobre pequenas patas de gato” (p.10).
Como dito antes, Bodoni perdeu a memória pessoal, embora preserve a memória coletiva, conhecida como memória semântica. Isso faz com que saiba quem foi Napoleão, o célebre tipógrafo Bodoni, mas não saiba se é casado, se tem filhos ou onde mora; além de não saber seu próprio nome.
Sobre isso, ele é casado, sua mulher se chama Paola, tem duas filhas, três netos, mora em Milão e está na faixa dos 60 anos, o que coincide com a idade de Eco no início dos anos 90, quando se passa a história do romance.
Para tentar se lembrar de quem é e de sua história, vai à casa de seu avô, nas montanhas de Piemonte. Lá encontra traços do seu passado entre revistas, gibis, livros infantis, tirinhas de jornais e poesias suas da meninice, até que, ao encontrar entre as caixas no sótão um livro setecentista, extremamente raro e caro, de William Shakespeare, desfalece e retorna num hospital, cercado pela família, em estado de coma, ou semelhante, por estar razoavelmente ciente do que ocorre.
Nesse estado imerge em seu passado, e sua vida volta aos poucos em recordações, sempre sob uma névoa que não lhe deixa tudo claro o bastante, mas lhe permite lembranças esparsas e reais que o fazem se reconhecer e a sua família, revivendo sua primeira e segunda infância, voltando aos dias do Fascismo, do início ao fim da Segunda Grande Guerra, dos dias e noites ao pé do rádio ouvindo a BBC de Londres e a rádio galena; momentos impressos no livro através de frases como “Não estávamos começando a ficar marcados pela angústia, pela atônita e elevada aflição que colhe quem passeia vivo em um campo coberto de cadáveres?” (p. 306).
Sobre isso, ele é casado, sua mulher se chama Paola, tem duas filhas, três netos, mora em Milão e está na faixa dos 60 anos, o que coincide com a idade de Eco no início dos anos 90, quando se passa a história do romance.
Para tentar se lembrar de quem é e de sua história, vai à casa de seu avô, nas montanhas de Piemonte. Lá encontra traços do seu passado entre revistas, gibis, livros infantis, tirinhas de jornais e poesias suas da meninice, até que, ao encontrar entre as caixas no sótão um livro setecentista, extremamente raro e caro, de William Shakespeare, desfalece e retorna num hospital, cercado pela família, em estado de coma, ou semelhante, por estar razoavelmente ciente do que ocorre.
Nesse estado imerge em seu passado, e sua vida volta aos poucos em recordações, sempre sob uma névoa que não lhe deixa tudo claro o bastante, mas lhe permite lembranças esparsas e reais que o fazem se reconhecer e a sua família, revivendo sua primeira e segunda infância, voltando aos dias do Fascismo, do início ao fim da Segunda Grande Guerra, dos dias e noites ao pé do rádio ouvindo a BBC de Londres e a rádio galena; momentos impressos no livro através de frases como “Não estávamos começando a ficar marcados pela angústia, pela atônita e elevada aflição que colhe quem passeia vivo em um campo coberto de cadáveres?” (p. 306).
Mas nem só de guerra Yambo se lembra, vêm a sua mente também as brincadeiras de criança, a eterna paixão não correspondida de infância pela bela Lila Saba, de quem não consegue lembrar o rosto, e a quem procurou a vida inteira em outras mulheres, desde o primeiro momento quando acreditou que poderia tê-la, “...eu a vi descendo um dia a escadaria do liceu e Lila tornou-se minha para sempre” (p. 406), até o instante em que percebeu que não a tinha:
“...amando-a, não podia conceber que ela não tivesse os mesmos sentimentos que eu. Estava enganado, como todos os apaixonados, emprestava-lhe minha alma e pedia que fizesse o que eu teria feito, mas assim são as coisas, há milênios. Ou não existiria literatura” (p. 409).
Em coma, vagando pelo seu passado, Yambo também se lembrou de um dos momentos mais importantes de sua vida, um momento de pavor e bravura, o ato de heroísmo que cometeu para salvar cossacos das mãos de alemães, o que quase o levou a morte. Enfim, longe do mundo real, Yambo se reencontrou através de flashes de sua infância e pré-adolescência, refez caminhos, de névoa em névoa.
Além do texto em si, o autor faz bastante uso de ilustrações de livros, revistas, quadrinhos, propagandas de produtos e do fascismo, tudo material de época para apresentar melhor o momento que retrata; um tempo em que os fascistas sonhavam com um mundo melhor, novo, mas à custa de mortes, sofrimento, torturas, ódio e racismo.
O romance, além de expor as faces do fascismo e do nazismo, também nos faz avaliar que o excesso de informação, como no caso de Yambo, pode nos levar ao esquecimento, como num paradoxo ― muito se aprende, muito se pode esquecer ―, trazendo-nos essa névoa que se espraia por todo o livro e pela mente do protagonista, numa clara metáfora do esquecimento e das vagas lembranças. Contudo, não deixa de ser também um romance romântico em relação à vida e às paixões, entre homens e mulheres ou entre os prazeres da arte e da liberdade.
P.S.: Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Meu melhor livro do ano.
2. Leonardo B. - Impressões Digitais
3. Ana Lúcia - Blog da Ana
4. Vanessa - Fio de Ariadne
5. Cristine M. - Rato de Biblioteca
6. Gleidi - Essência e Palavras
7. Angela - Entremeios
8. Marcos - Jornadas do Eu Sozinho
9. Aline Amora - Palavras Adocicadas com Cafezinho e (link extra)
10. Elaine dos Santos - Profe Elaine
11. Debora J. - Reload
12. Roberto Barbato Jr. - Lápis Impreciso
3. Ana Lúcia - Blog da Ana
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9. Aline Amora - Palavras Adocicadas com Cafezinho e (link extra)
10. Elaine dos Santos - Profe Elaine
11. Debora J. - Reload
12. Roberto Barbato Jr. - Lápis Impreciso
Imagem: ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Record, 2005.
Imagens seguintes: divulgação, e também presentes no interior do livro.
Ok, William, já postei o meu texto, viu?
ResponderExcluirInteresante essa questão de como o excesso de informação, na verdade, pode nos levar ao esquecimento: acho que vivenciamos isso, atualmente, mais do que nuca, nessa era de internet. E Umberto Eco é sempre muito bom, sem dúvida.
Gostei muito do seu blog e voltarei sempre aqui.
Sabe, me interessei em ler este livro...deixarei para minha primeira leitura do próximo ano...
ResponderExcluirLi bastante este ano também e dois livros me encantaram bastante!Sem puxar o seu saco...gostei muito do seu de poesias...eu viajo e a cada vez que leio eu encontro diversas interpretações!E gostei muito de um bem literário: A confissão de Lúcio- Mário de Sá Carneiro.Muito bom!!!Muito inteligente, o qual podemos encontrar vestígios do simbolismos, mas é puramente uma obra do inicio do modernismo português.Futurista e expressionista, o autor consegue muito bem extrair este movimentos, sentimentos...eu gostei muito, mas muito mesmo!
Vale a pena ler!
Aproveito para deixar aqui:
Boas festas...
um natal suave e um ano novo muito feliz e alegre!!!
Beijos
Aline
Will,
ResponderExcluiramigo quase não foi possível postar,mas Dulcinéia está aqui presente,com sua missão cumprida,
Parabéns pela iniciativa,postei pela Lan,espero que tenha feito a lição de casa direitinho.
beijinhos e beijões
Mari
Umberto eco é um escritor que gosto e sua resenha , detalhada e bem escrita já me deixou apaixonada pelo livro, sem duvida vou le-lo e logo.
ResponderExcluirSão assuntos que me interessam, a memoria, seria melhor dizer as memorias, a paixão e sua relação com a literatura, a história e a sempre parcial e incompleta compreensão da realidade, feita e refeita pelas luzes que vão iluminando locais diferentes e as nevoas que vão se abrindo ou adensando-se por sobre nossa memoria.
beijos
[do que fica por contar, das noites em que parece que o sono se esvai por haver uma escrita que implora, que grita, que nos acorda ou adormece, consigo, os livros, são sempre difíceis objectos de prazer... vivem por si, para além da alma de quem os escreveu, vivem na solidão das letras que procuram as duas luzes do mundo: a que nos ilumina e a que os nossos olhos permitem perscrutar nesse código complicado de letras, de símbolos, signos ou sinais. Olhando para um que se escolhe, para um livro que se elege, tantos os que ficam acenando, ambulantes nas suas capas e corpos de marfim de ébano palavra gravado!]
ResponderExcluiragradecido pelo desafio, william
até sempre, até daqui a nada
um imenso gigantabraço
Leonardo B.
Amigos,
ResponderExcluirAos que aceitaram participar da blogagem escrevendo seus textos, nos descrevendo os livros que mais os emocionaram neste ano que já vai pelo fim, meu muito obrigado. Gostei muito de tê-los aqui, todos vocês: Mari, Leonardo, Ana Lúcia, Vanessa, Cristine, Gleidi, Angela, Marcos, Aline, Elaine, Débora e Roberto. Muito obrigado. Todos escreveram ótimos textos!
Um grande abraço a todos e cuidado para não se empantirrarem com panetone. Já chega Brasília!
Querido William,
ResponderExcluirobrigada pela dica dolivro que buscarei passado tese. Obrigada porincluir-me em sua lista de leitores o ano inteiro e, por último, desejo a você um final de ano muitofeliz, um Natal luminado pelo espírito da paz e do amor. Que 2010 seja um ano próspero para a conscientização e humanização de todos nós, próspero e cheinho de letras, livros e boas idéias. Se Deus quiser!
beijo,
Inês
William,
ResponderExcluirEstava comentando no post "Fragmentos de Deus" e os posts relacionados me trouxe aqui. Tenho este livro em casa e li somente as primeiras páginas, logo depois tive de abandonar a leitura graças à monografia - motivo também pelo qual não pude participar desta coletiva :( - mas estou querendo lê-lo em breve, quando estiver de férias. Acho que Eco merece.
Grande abraço.
Luciano, é um livro muito bom. Há quem não tenha gostado, claro, sempre há. Mas é um livro que por abordar as memórias de infância do autor, aborda também um período negro da Europa e, especificamente da Itália, na Segunda Guerra, nos trazendo uma visão diferente da maioria já vista antes, a visão de uma criança. Além disso, há outros pontos sobre leitura e perda de memória... Enfim, gostei do livro.
ResponderExcluirUm grande abraço!