Entre as densas sombras da noite,
Eu me encontro.
Expectador do mundo,
Sofredor do mundo,
Fiel aos infiéis
Que não me crêem.
Diante seus olhos de pavor,
Estou,
Aflito por expurgar-lhe seu mal,
Doente por expor-lhe seu caos.
Quando deita sob seu teto,
Meu reflexo paira sobre sua janela.
Ávido por sua atenção,
Destruído por negar-me outra vez.
Se sorrir entre os seus,
Minhas lágrimas escorridas
Banham meu terno tão sujo
Quanto minha alma abandonada.
Quando me encontro
Debaixo do céu cinzento,
Vejo você escorregar do outro lado da rua,
Evitando minha face
Como se evitasse o seu demônio.
Assisto você perambular entre falsos risos
E ricas carnes de almas pobres,
Beijando bocas que sempre negaram meu verbo.
E não importa o quanto negue minha existência,
Sempre existirá um outro para substituir-me;
Um outro que interpretará suas dores escondidas,
Um outro vates sóbrio e inegável
A escrever a tristeza
Que você finge não sentir.
Poema extraído do meu livro Noturno, publicado em 2003.
Imagem: Vincent Willem van Gogh, Noite estrelada sobre o rio Ródano, 1888.
Que bonito William.
ResponderExcluirEstou louca para chegar no brasil e ganhar meu livro heheheeh
Que bom que gostou. Vai ganhar seu livro.
ResponderExcluirBeijo!
A alternância, ora "eu", ora "você", dão o ritmo da alteridade no poema, embora prevaleça a ótica do eu-lírico...
ResponderExcluirAriane,
ResponderExcluirSabe tudo!
Obrigado pela visita!
Oi William! Sou franca em dizer que adoro poesia e até arrisco uma (minha) interpretação, porém, tão profundo é o mundo dos que escrevem bons poemas e das letras que os contêm (está aí a Ariane entre seus comentários, também maravilhosa poetisa pra dizê-lo...) e o que quer que se diga parecerá vago.
ResponderExcluirComo é um campo de subjetividade: li o poema e cheguei a lembrar daquelas músicas que tratam do amor dilacerado por outra pessoa, do desprezo do "ser amado" diante da intensidade com que é venerado, pela nulidade com que esta pessoa do eu-lírico vive seu amor (tão ignorado, tão só...)e, sobretudo, como é capaz de vislumbrar os próximos passos através do próprio sofrimento e, talvez, por isso mesmo tão bem represente (nossos) amores e dores.
Aproveito para presenteá-lo com selinhos, fique à vontade para aceitar ou não, ok? Bjins e até!