Arnaldo Lobo Antunes, presente na FLIP deste ano, em Parati, é um dos grandes escritores da atualidade, sem sombra de dúvida. Médico de formação, trabalhou na guerra de Angola, onde viu vários tipos de atrocidades, físicas e psicológicas, que o marcaram profundamente e que acabaram inspirando seus livros. Fez tanto sucesso, desde seu primeiro livro, que largou a medicina e passou a se dedicar exclusivamente à Literatura. Entre esses sucessos está Os cus de Judas¹ , lançado em 1979, livro que traz um pouco do que foi a “estada” de seu autor na guerra em Angola.
Nesse livro o protagonista, e narrador em primeira pessoa, é um médico, recém chegado da guerra de independência de Angola, que relata a uma mulher, que parece ter conhecido no bar onde estão, suas experiências nessa guerra. Seu relato, não-cronológico, sob um fluxo narrativo intenso, mistura detalhes sangrentos, loucos e desumanos da guerra com lembranças de sua infância e adolescência na Lisboa salazarista, numa espécie de involução de felicidade que começa numa criança feliz, passando por um jovem impassível, que tem seu futuro traçado pela autoridade inquestionável da família, até se transformar num homem ácido, frustrado, apático e desiludido. O relato ininterrupto começa no bar que citei e continua na casa do médico, seguindo até a manhã seguinte, depois que os dois foram pra cama e a mulher está indo embora. Quem é essa mulher, não se sabe; em nenhum momento seu nome é falado. O nome do médico, também não é dito. Pela forma como o romance é discorrido, os nomes de seus personagens não se fazem necessários, o que importa realmente são as descrições de seu protagonista, o sentimento que ele expõem, os relatos sobre o que ver e sofre, as mudanças ocorridas na sua vida e no que lhe transformou a guerra. Devido à forma de composição e narração do personagem protagonista, as palavras e as frases vêm ao nosso encontro com mais veracidade, causando maior impacto no leitor, nos parecendo mais reais, como se jorradas de uma mente efervescente e angustiada pela solidão e sentimento de perda. A voz da interlocutora do protagonista não aparece em nenhum momento, tomamos conhecimento do que ela possa perguntar apenas pela forma como o médico direciona seu discurso.
O livro é imperdível, como são todos os que li de Lobo Antunes. Portanto, se gosta de uma Literatura com profundidade e pouco convencional, se gosta ou quer conhecer um trabalho autêntico diferente, não deixe de ler esse livro. Será um bom momento para conhecer esse escritor que veio nos visitar.
¹ ANTUNES, António Lobo. Os cus de Judas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
O Arnaldo Antunes é fera mesmo!
ResponderExcluirJá li muito de suas poesias, mas agora quero ler essa narrativa... ooooooops a min ha lista de livros pendentes crescendo cada vez mais com a sua ajuda!
William,
ResponderExcluirmuito oportuno e bom seu comentário sobre Lobo Antunes e seu livro. Parabéns!
abraço,
Inês
Também gosto do Lobo Antunes. Sua escrita é moderna e única! Boa indicação, William!
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