19/07/2009

julho 19, 2009
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― Alô, Robenildo? Robenildo?

― Quem?

― É o Robenildo?

― Aqui é a Rachelli.

― Vixi Maria eu confundi as voz. Rachelli, tudo bom, minha fia?

― Quem tá falano aí?

― Aqui é Genaro.

― Que Genaro?

― O Genaro da Jefrésia. Esqueceu menina doida?

― Ah, seu Genaro. Tudo bom?

― Eu tô bem, hihihi.

― Como tá tu, quer dizer, como tá o sinhô?

― Vô bem, minha fia. O Robenildo tá aí?

― Ixi, num sei não.

― E quem é que sabe, diacho?

― Minha mãe deve de saber.

― Pois, minha fia, vá perguntar, por favor, que eu tô ligano com um cartão, num dá pra falar muito não.

― Tá, tá bom, vou lá perguntar.

― Tá certo minha fia, vá lá. (Oh menina estranha essa, viu – disse pra si mesmo –, o diabo parece que bebe, tem as ideia tudo trocada. Nãm!).

― Oh Genaro, é tu, homi?

― Robenildo, rapá, é ocê, diacho?

― Sou sim diabo doido, quem era de ser, ora mais?!

― Tua fia disse que num sabia se tu tava em casa.

― Ela é abestada, macho, tu sabe como ela é.

― Ahahahaha, é verdade, a menina é doidinha.

― Mas fala aí a que devo a alegre ligação.

― Falando bonito: “alegre ligação”, hihihihi.

― Tô estudano, macho, depois de véi. Já sei até um monte de palavra difíce.

― Mas tá muito sabido, tu. E como é que tu tá, tudo bem?

― Tô não!

― Por quê?

― Diarréia, macho; tô com uma fininha danada de fina. Oh diabo rúin!

― E o que foi que tu comeu, homi, pra tá com fininha?

― Nada de mais.

― Quando foi que tu começou a sentir a água escorreno?

― Foi no aniversáro da Cremildes.

― Num tinha comida estranha lá não?

― Tinha nada, era só comida boa: buchada, sarrabui, feijoada, só coisa boa, macho, num sei o que foi que me fez mal.

― Pois numa é macho, se só tinha isso num era pra tu tá mal não.

― Mas e tu, como tá tu?

― Eu tô bem.

― E o teu patrão, aquele escrevinhador.

― Escritor, macho!

― Isso mermo!

― Ele tá bem.

― Ele conversa muito com tu, ou não fala com empregado?

― Cunversa, meu patrão num tem isso não, macho, ontem mermo a gente tava falando do probrema lá do senado, do tal de senadô. O diabo do homi parece que empregô todo mundo dele lá no senado como bem quis.

― É mermo, macho?

― Tu num viu não na televisão, não?

― A muié só vê novela. Ô diabo do meu abuso.

― Pois, rapaz, tá todo mundo querendo botar o bigodudo pra fora de lá, mas ele diz que é anjinho, num fez nada não, é tudo caluna e difamação.

― Caluna? O que é isso, macho?

― Tu num sabe o que é caluna não? Teu estudo num tá servino não, viu véi, caluna é quando as pessoa diz que tu fez o que tu num fez.

― E o que é que tão dizeno que eu fiz?

― Deixa de ser abestado, tua fia tem a quem puxá, viu, macho.

― Num xinga não!

― Macho, quando eu falei “tu” era só pra dá um exempro.

― Ah bom, então fala direito, macho.

― “Fala direito”...

― Mas me diz: qual foi o grande probrema desse senadô ter empregado esse pessoá?

― Parece que o véi fez umas contratação aí sem avisá ninguém, uns esquema doido aí, sabe? Chamô os amigo pra trabaiá, pagô uns salário muito doido aí. Enfim, pegô um mói de gente e botô lá dentro.

― Êita que povo lalau, macho.

― É sim, tudo lalau. Mas tem um fio e uma fia dele que também tem uns negócio estranho aí.

― Vixe Nossa Senhora, que povo rúin.

― É sim.

― E num vão botá o homi pra fora não?

― Já passou, macho, e num fizerum nada não.

― Por quê?

― Sei lá, esse povo num liga pra ninguém não, Robenildo, só querem é saber deles mermo, tudo macomunado, povo bom é de pisa; se eu pudesse, macho, eu dava uma surra de cinturão no traseiro deles que eu queria ver eles roubá mais.

― Eles matavam era tu, besta.

― Matavam, mas eu quebrava tudin, ora se num quebrava, bando de ladrão sem vergonha duma porra!

― Genaro, tu é doido, macho.

― Doido o quê, eu num gosto é de quem fica rico roubano a gente.

― Eu também não, Genaro, tu tem razão, esse povo precisava era duma surra daquelas pra ficar um mês com a bunda roxa sem poder sentar.

― É, mas vamo mudar de assunto: quando é que tu vem aqui me visitá.

― Vixi, num sei se vô não.

― Por quê?

― É longe, depois que me mudei pro Mato Grosso, fica difíce ir aí nos interior do Ceará.

― Mas dá pra vim, homi.

― Por que tu não vem, então?

― Posso não.

― E por quê?

― Tenho tempo não, trabaio muito.

― Tu tá é com cunversa.

― Que cunversa o quê?! Me respeite!

― Cunversa , tu só quer que eu vá, mas tu num vem, tu é um amigo muito do fulerage.

― Tu me respeita, seu bosta.

― Bosta é tu. Marmenino!

― Se tu tivesse aqui, macho, eu te dava uma porrada.

― Dava porra nenhuma.

― Macho tu vai ver quando eu te encontrar, tu vai apanhar tanto.

― Vou nada, tu apanha até da tua muié, que eu tô sabeno.

― Macho tu para, macho! Tu tá me deixando nervoso.

― Pois pode ficar, bestarréi!

― Eu vô desligá, se não eu sô capaz de passar por esse telefone e te dá um soco aí onde tu tá.

― Vixi, e tu agora é o Deive Copefíldi, é?

― Macho, vai te lascar, vai, fidumaégua!

― Vai tu, Copefíldi.

― Eu vou te pegar, tu vai ver.

― Pega nada.

― Macho, tu vai sofrê tanto, macho, tá me ouvino? Tá ouvino, porquêra? Alô, alô, alô. Mas num é que o fidumavaca desligô o telefone. A desgraça!




Imagem: Gustave Courbet, Cortadores de pedras II.

5 comentários :

  1. O cartão acabou... culpa da lerdinha da Rachelli...

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  2. Fernanda:

    Essa diaba doida da Rachelli... Não sei não.

    Um beijo, menina bonita!

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  3. Rsrs, muito bom, muito bom! A linguagem me lembrou mto o "Sargento Getúlio"... Ah, e a tela de Courbet, "os quebradores de pedra" contrasta bem a realidade entre o trabalho árduo e honesto e aquele da politicagem... Vamos aqui tentando quebrar mais essa! Abraço!

    http://arianerodrigues.blogspot.com

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  4. Ariane:

    Que bom que gostou e sorriu. Quanto ao "Sargento Getúlio", eu também gosto muito; fazem tantos anos que o li. E a tela do Coubert realmente contrasta com a realidade política que estamos vivendo.

    Obrigado pela visita!

    Um beijo, menina!

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  5. William,
    que delicia de texto,não quero nem comentar as "realidades"e "contrastes",parece que você adivinhou,estes dias estava pensando em teus personagens,são leves.
    obrigada por esta leitura
    Boas energias
    Mari

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