De um tempo para cá as editoras no Brasil vêm investindo mais na qualidade física de seus livros e nas traduções que apresentam: melhoraram os papéis do miolo dos livros, a elaboração e a arte das capas ― com algumas editoras fazendo muito uso de capas-duras e sobrecapas ―, além de uma maior presença de livros de bolso. E esse projeto de livros de bolso é muito louvável porque atende a um público de menor renda que não poderia comprar os livros em edição normal. Mas uma coisa me chama mais atenção neste momento: a qualidade das traduções. Antes, há não muito tempo atrás, livros em idiomas como o russo, o holandês, o japonês e outros menos falados, só chegavam a nós a partir da tradução do inglês ou do francês ― como normalmente acontecia com os livros de origem russa ―, ou seja, tínhamos uma tradução da tradução, o que nos fazia perder muito do texto original, pois recebíamos uma versão da forma como o primeiro tradutor entendeu o texto, o que se tornava uma tragédia quando o texto era uma tradução de Dostoiévski feita a partir de uma tradução francesa, porque, como consta entre os especialistas, os franceses foram ― não sei se ainda o são ― um dos piores, se não os piores, tradutores de Dostoiévski.
Mas por que eles seriam tão ruins? Por que os franceses costumavam pegar os textos do autor russo, que era elaborado numa linguagem mais coloquial, simples, devido ao seu intuito de dar mais verossimilhança aos seus personagens, e os belos tradutores mudavam essa linguagem, transformando o original numa linguagem mais rebuscada, mais de acordo com o que eles acreditavam que era mais bonito e elegante, assim estragando sensivelmente a característica dos textos de seu autor original.
― Jacques Legrand, vou mudar essa linguagem chula desse livro. Não gostei!
― E o que pretende fazer, Patrick?
― Vou trocar por uma linguagem mais elegante, mais monumental, trè chic, mais de acordo com nossa elegância francesa e comigo, naturalmente.
Mas infelizmente isso ainda não era o pior, o pior era quando esses mesmos traidores, digo, tradutores mudavam o rumo da história, mudavam a direção da história.
― Não gostei desse final, Jean Pierre, vou mudá-lo.
― Pois então muda, Jean Charles, você é o tradutor, faz como achar melhor, até porque esse Dostoiévski é muito pesado, vamos transformar o livro dele em algo mais leve.
― Isso mesmo, mais leve.
E mudavam o rumo da trama, daí os brasileiros, que usavam essas traduções para fazerem as suas, pegavam um texto já estragado e o traduziam para nós.
Ainda existem algumas traduções do francês circulando por aí, como as de Tolstoi, nas traduções completas de certa editora, e do próprio Dostoiévski. Entretanto, a culpa dos textos chegarem estragados às nossas mãos não é de nossos tradutores, eles apenas traduziram o que lhes entregaram, a culpa é dos franceses que corromperam o texto.
Contudo, isso já é coisa do passado, hoje estamos nos livrando desse mal, editoras como a 34 e a Cosac & Naify traduzem direto do original, seja russo, japonês, holandês ou outra língua distante – tendo inclusive suas traduções premiadas. Você agora pode ler o mestre russo Dostoiévski numa tradução direta do russo, nos livros da editora 34, por exemplo, que vem lançando, há tempos, a obra completa do autor. Isso nos poupa dos falsos textos franceses (só não sei se os franceses, até hoje, ainda têm que ler livros com histórias trocadas e linguagens inverossímeis; espero que não).
Então, antes de comprar um livro traduzido de autores desses idiomas que citei aqui, primeiro olhe se a nossa tradução não é feita a partir de uma tradução francesa, se for, procure evitar, você pode estar lendo o texto que um francês criou e não o de Tolstoi, por exemplo.
Sabendo disso, vamos aproveitar essas novas traduções, e parabéns a essas boas editoras.
Mas por que eles seriam tão ruins? Por que os franceses costumavam pegar os textos do autor russo, que era elaborado numa linguagem mais coloquial, simples, devido ao seu intuito de dar mais verossimilhança aos seus personagens, e os belos tradutores mudavam essa linguagem, transformando o original numa linguagem mais rebuscada, mais de acordo com o que eles acreditavam que era mais bonito e elegante, assim estragando sensivelmente a característica dos textos de seu autor original.
― Jacques Legrand, vou mudar essa linguagem chula desse livro. Não gostei!
― E o que pretende fazer, Patrick?
― Vou trocar por uma linguagem mais elegante, mais monumental, trè chic, mais de acordo com nossa elegância francesa e comigo, naturalmente.
Mas infelizmente isso ainda não era o pior, o pior era quando esses mesmos traidores, digo, tradutores mudavam o rumo da história, mudavam a direção da história.
― Não gostei desse final, Jean Pierre, vou mudá-lo.
― Pois então muda, Jean Charles, você é o tradutor, faz como achar melhor, até porque esse Dostoiévski é muito pesado, vamos transformar o livro dele em algo mais leve.
― Isso mesmo, mais leve.
E mudavam o rumo da trama, daí os brasileiros, que usavam essas traduções para fazerem as suas, pegavam um texto já estragado e o traduziam para nós.
Ainda existem algumas traduções do francês circulando por aí, como as de Tolstoi, nas traduções completas de certa editora, e do próprio Dostoiévski. Entretanto, a culpa dos textos chegarem estragados às nossas mãos não é de nossos tradutores, eles apenas traduziram o que lhes entregaram, a culpa é dos franceses que corromperam o texto.
Contudo, isso já é coisa do passado, hoje estamos nos livrando desse mal, editoras como a 34 e a Cosac & Naify traduzem direto do original, seja russo, japonês, holandês ou outra língua distante – tendo inclusive suas traduções premiadas. Você agora pode ler o mestre russo Dostoiévski numa tradução direta do russo, nos livros da editora 34, por exemplo, que vem lançando, há tempos, a obra completa do autor. Isso nos poupa dos falsos textos franceses (só não sei se os franceses, até hoje, ainda têm que ler livros com histórias trocadas e linguagens inverossímeis; espero que não).
Então, antes de comprar um livro traduzido de autores desses idiomas que citei aqui, primeiro olhe se a nossa tradução não é feita a partir de uma tradução francesa, se for, procure evitar, você pode estar lendo o texto que um francês criou e não o de Tolstoi, por exemplo.
Sabendo disso, vamos aproveitar essas novas traduções, e parabéns a essas boas editoras.
Imagem: Il'ia Efimovich Repin, Ivan the Terrible and His Son, 1885. A pintura retrata um dos momentos mais dolorosos da vida do czar, quando, usando um bastão como o que aparece em primeiro plano, matou o próprio filho, também chamado Ivan, com um golpe na cabeça, durante um acesso de fúria.
Estou lendo um livro numa edição de bolso e concordo com você em relação a qualidade das traduções.
ResponderExcluirbeijos ternos, continuo sem computador, por isso a minha ausência, me perdoe por favor...
Estava falando desse assunto outro dia com uma amiga... Ela esperou até a nova tradução de Capote sair, mesmo que não tenha sido tradução francesa (rss)!
ResponderExcluirÓtima dica das editoras que fazem uma tradução mais 'original' se é que podemos dizer que uma trd. possa ser original. Enfim, obrigada novamente pelas informações, trocas e humor!:)
William,
ResponderExcluirNossa,texto pertinenete,peço-lhe licença,para complementar com algumas informações:os descontos são de 70% em alguns títulos.
Cosac & Naify é uma editora brasileira.
Fundada em 1996 pelo dândi milionário Charles Cosac e seu cunhado, o magnata americano Michael Naify, a Cosac & Naify surgiu como uma editora voltada para as artes visuais: monografias sobre artistas brasileiros, ensaios sobre história e teoria da arte, cinema, teatro, design, arquitetura, fotografia, dança e moda.
A partir de 2001, foram criadas novas linhas editoriais, que oferecem ao leitor um repertório de obras clássicas da literatura universal e de autores contemporâneos, literatura brasileira, além de ensaios de referência em filosofia, antropologia e crítica literária.
Essa ampliação do catálogo da editora contemplou também a produção infanto-juvenil. Em 2003 a Cosac & Naify ganhou o Prêmio Jabuti de Livro do Ano, com o título Bichos que existem e bichos que não existem, de Arthur Nestrovski.
Em 2006, editora comemorou o seu 10° aniversário com uma série de livros especiais e, em 2007, foi recordista em prêmios Jabuti, vencendo em 10 categorias.(fonte:PUC/USP convênios)
Perdoa,me empolguei,mas tb vc escreve sobre assuntos nos deixam eufóricos!
bjks,
Mari
Eu acho que este é o encanto dos livros que os e-books não tem: poder folhear, sentir a textura da folha, a forma do texto, figuras, capas (nossa, as capas!), adoro um bom "acabamento" de capa! Encontro muito esta qualidade nos livros voltados às Ciências biológicas (biografias ou não)que já possuo, como isso nos atrai também.
ResponderExcluirQuanto às traduções, não tenho bom conhecimento para diferenciar a boa da duvidosa, só quando sou recomendado a não escolher a "X" e levar a "Y".
Os livros de bolso, peguei gosto em tê-los (não no bolso, claro..rss), mas mais pela economia (necessária no meu caso...rss).
Um abraço, "Seo William"
Marcelo.
Não sabia disto...Vou ter que reler alguns livros agora rsrsrs vou procurar estas novas edições...Muito obrigada pela informação.
ResponderExcluirO ser humano é uma graça não é? Sempre gosta de dá o seu jeitinho,claro que o respeito pelos direitos autorais é levado em conta kkkkkkk
Se isto ocorre em romances eu fico imaginando o que acontece na história real nos nossos livros educacionais...Deve ter muita coisa camuflada !!Bjus e até mais
Olá, Willian. Eu que sou tradutora concordo contigo. Na verdade o papel do tradutor não é tão-somente descodificar um texto, mas sim, através dele, transpor culturas, o que é muito mais louvável. É uma pena que os franceses com seus preconceitos tenham esquecido disso. Daí, surgiram então essas transgressões literárias de além-mar. Parabéns pelo artigo tão bacana.
ResponderExcluirLarissa,
ResponderExcluirObrigado a você, é sempre bom tê-la por aqui.
Um beijo, menina!
Mari C.,
Eu conheço o histórico da Cosac & Naify, é uma grande editora brasileira, sim. Sou cadastrado nela há muitos anos e costumo comprar seus títulos direto pelo seu site.
Obrigado pela empolgação, rs!
Um beijo!
E se já não é a leitura um exercício de interpretação?
ResponderExcluirEvidentemente quando uma pessoa lê um texto já o assimila de um modo bem particular, e vai expor o que entendeu dessa forma, mesmo que não seja sua intencionalidade como no caso desses franceses.
Toda tradução é um trabalho particular. Por mais que se tente manter imparcial quanto a isso. Mas claro, o tradutor deve tentar, pelo menos evitar ao máximo esse vício e não mudar o formato e o sentido da obra do autor.
Olha... indiquei seu blog para um selo.
Abraços
.
http://solucomental.blogspot.com
Marcia,
ResponderExcluirObrigado por estar sempre por aqui.
Um beijo, e não precisa se desculpar.
Marcelo,
Não vejo graça nos e-books, sou romântico quanto aos livros, e espero que eles durem para sempre.
Um abraço, meu querido!
Lis,
É, menina. No caso dos franceses é arrogância. Mas talvez isso não ocorra mais por lá. Editoras como a Nova Aguilar, ainda vendem traduções baseadas nas francesas; não sei se são seguras, por isso, mas, quem sabe?!
Um beijo, menina.
Ariane,
Obrigado, tradutora. Infelizmente os franceses têm essa arrogância em tudo que fazem, mas, como disse à Lis, espero que já tenham parado com essas “traições”.
Um beijo!
Diego,
ResponderExcluirObrigado pela visita. Você tem razão quanto à tradução. E não se deve haver um cuidado, não se pode sair por aí mudando o sentido das palavras ou a direção do texto.
Um abraço e obrigado pelo selo!