O dia da Jefrésia

― Meus parabéns Jefrésia.

― Vixi, nem é meu aniversário, seo William.

― Mas hoje é seu dia.

― E é? Quem disse? Num é não, homi.

― Jefrésia, hoje é o Dia Internacional da Mulher.

― Vixi, e tem isso é de dia internacional da muié? Olha aí, Genaro, hoje é o dia das muié.

― E é? Uia! E quando é o dia dos homi?

― Não tem dia dos homens, Genaro.

― Eita, e por que não, num tem das muié?

― Mas é que o motivo de existir o dia das mulheres é devido a uma série de fatores que fizeram com que elas fossem destratadas, desrespeitadas, e discriminadas durante anos. Mas na verdade, todo dia é dia delas. Afinal, tem coisa melhor, Genaro?

― Se fô mais educada que essa aí.

― Tu tá é cum inveja, Genaro, por que num tem o dia dos homi, só das muié.

― Deixa de ser besta muié; ô muié besta, nam!

― Vocês dois são umas figuras.

― Num samo figura não, seo William, samo de carne e osso.

― Esquece Jefrésia.

― Ham?

― Nada, nada, Jefrésia, hoje é seu dia, tire folga e vá comemorar.

― É verdade, seo William, eu tô de foga?

― Está sim.

― Ixi que corra boa menino! Viu só Genaro, o seo William me deu foga; êita rapaize, eu vou é bater perna por aí, quem sabe as pessoa não vão me dano os parabéns nas rua, né não, seo William?!

― Não sei se isso vai acontecer, Jefrésia.

― Oxe, e por que não, num é dia das muié?

― Mas ninguém anda pela rua parabenizando as mulheres que não conhecem, ainda mais em um país machista como o nosso, onde as mulheres recebem salários menores que o dos homens, mesmo ocupando o mesmo cargo.

― E é, seo William? Mar minino, por que paga menos se as muié faz o mermo serviço?

― Discriminação Jefrésia.

― Isso é muita é sacana... desculpa, seo William, ia falando um palavrão.

― Não tem problema, Jefrésia. Mas isso vai mudar, já mudou muito.

― Olha, seo William, se eu fosse trabaiá numa casa e soubesse que o dono ia me pagá menos que pagava a um homi que trabaiou lá, eu dava um murro tão bem dado na cara dele que ele ia ficá cum as venta sangrano dois mês, juro que quebrava o pau da venta dele, ora mar menino!

― Hahahahaha, eu tenho certeza que faria isso, Jefrésia.

― Liga não, seo William, a Jefrésia é doida da cabeça.

― Cala a boca, Genaro, eu ia bem aceitá me pagá menos é? Só se eu fosse abestada como tu.

― Lá vem ela me xingano de novo.

― Ah,vai lamber sabão, Genaro!

― Vai tu, abestalhada!

― Genaro eu te dô uma cabada de vassora no quengo, tu vai vê, diabo!

― Qué sabê, eu vô é trabaiá, que é muito mar mió. Tchau, seo William!

― Tchau Genaro!

― Olha, seo William, eu vô passear, tá bom?

― Tá bom, Jefrésia, vá passear; mas antes, isso aqui é pra você.

― O que é, seo Wiliam?

― Veja!

― Mar menino, óia só, é um vestido. Ah seo William, muito obrigada, viu, deixa eu dá um abraço e um beijo no sinhô, o sinhô é um anjo.

― Só se for um anjo caído.

― Hihihihi, o sinhô é engraçado. Tchau, seo William, vô vestir esse presente que o sinhô me deu e desfilá por aí, feito aquela mudelo magrela, a tal de Giselda Bithen. O sinhô cunhece?

― Gisele Bündchen, você quer dizer.

― Essa aí mermo. A bichinha é tão magrinha né?! Parece que num come não, é tão sequinha, se dé um vento nela sai voano por aí. Num come tutato, buchada, sarrabui, por isso é tudo magrelarréia, desnutrida. Mar eu vô me borá. Tchau, seo William, e obrigado pelo presente.

― Por nada, Jefrésia, tchau!


_______________
Imagem: Fernando Botero, Monalisa de Botero, 1977.