11/05/2010

maio 11, 2010
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“Como deixei de ser Deus” é o novo livro do escritor Pedro Maciel. Assim como seu romance anterior, este é confeccionado em pequenos textos de pouquíssimas linhas, e essas poucas linhas se assemelham à máximas, frases, pensamentos, fragmentos ou aforismos soltos com um tom, por vezes, poético, como em “(...): ainda era de madrugada quando ouvi as primeiras frutas amadurecendo o dia. A minha sombra não gosta de tomar sol” (1). E justamente devido a essa estrutura é difícil dizer se o livro trata-se de um romance, de uma coleção de aforismos ou de fragmentos de pensamentos da fala de um deus ou personagem que se crer deus.

No meio de toda essa dúvida sobre o gênero, o leitor se ver em agradável “desconforto” e intrigado, sendo forçado a elaborar teses sobre o personagem e o próprio tema do livro, bem como sobre o porquê de sua estrutura. Além disso, o fato de muitos aforismos lembrarem textos já lidos antes, seja por que certas frases parecem ou são as mesmas desses textos, seja por que lembram e possuem o mesmo sentido, acaba por instigar a memória do leitor a identificar esses textos em seus arquivos. Assim o leitor se pega pensando “Onde foi que eu li isso antes?”. E isso fica bem claro nos exemplos a seguir: “Pitágoras fez Deus um espírito pela natureza de todas as coisas de que nossas almas emanam; Parmênides, um círculo cercando o céu e sustentando o mundo com o calor da luz” (2) e “Procuro-me! Tenho todos os sonhos do mundo; só não sei como realizá-los” (3) ― este último fragmento nos fazendo lembrar Fernando Pessoa. E isso nos dá também a ideia de que o autor pesquisou muita coisa durante a concepção do volume, rememorando ou adquirindo novos conhecimentos sobre temas relevantes para a confecção do texto.

Por outro lado, o tema, ou os temas das frases possuem também um ar filosófico sobre o mundo, sobre Deus, sobre quem é esse Deus e o que Ele deseja para os seus. Ele estaria contente com os seres humanos? Gostaria de abandonar seu “trono” e ser um de nós? São questionamentos que podem muito bem serem feitos durante e após a leitura do livro, como em: “(...); ainda posso ouvir a explosão que teria dado origem ao cosmo. Peço a Deus que me livre de Deus” (4), “Estou a um passo de tornar-me um ser humano. Por muito tempo me sentia como se fosse um deus qualquer” (5), “Um deus para cada morto. Nasci ‘muitos’ e morri ‘um’ só” (6) e “O que eles sabem de mim? Cada um forja um deus para si” (7).

Enfim, todo esse rebuliço causado na mente, na memória e na bagagem cultural do leitor faz com que o livro não seja comum, não seja uma mera literatura de passagem, mas uma coisa nova a ser assimilada pelos que o leem. Com certeza é uma forma diferente de fazer literatura que vale a pena ser conhecida.




Livro: MACIEL, Pedro. Como deixei de ser Deus. Rio de Janeiro: Top Books, 2009.
Imagem: Capa do livro.
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(1) Pág. 77. Fragmento 159. Grifo do autor.
(2) Pág. 17. Fragmento 14. Grifo do autor.
(3) Pág. 85. Fragmento 488. Grifo do autor.
(4) Pág. 53. Fragmento 73. Grifo do autor.
(5) Pág. 123. Fragmento 1363. Grifo do autor.
(6) Pág. 123. Fragmento 1365. Grifo do autor.
(7) Pág. 129. Fragmento 1909. Grifo do autor.
 

8 comentários :

  1. William,

    Fiquei muito curioso e propenso a ler este livro. Vou procurá-lo, com certeza.

    Grande abraço, e obrigado pela dica.

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  2. Ola William
    Perfeito!!
    Desejo a você, que a vida seja um paraíso absoluto
    que o amor seja um sol que aquece
    e que em alegrias o caminho tece!
    Boas energias,
    Mari

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  3. Que bom que se interessou, Luciano. É um livro diferente, todo montado em forma de aforismos ou fragmentos de pensamento do protagonista. Vale a pena conhecer.

    Um grande abraço!

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  4. A Travessa do Leblon acabou de enviá-lo, já dei uma folheada. Enigmática, sua forma... O Pedro está muito bem acessorado, diga-se de passagem: orelhas do Veríssimo, do Antonio Cícero, do Scliar!
    Abraço!

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  5. Quero muito ler este livro. E agora que li seu texto fiquei com mais vondade. Só preciso encontrar tempo, rs.
    Beijo

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  6. È , com certeza deu uma imensa vontade de ler o livro! Sinto falta de textos seus no Cronópios ! Abraços ! syl

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  7. Ana, é verdade, assessoria do Pedro é impecável. Obrigado pela visita. Um abraço carinhoso.

    Camila, que bom que meu texto aumentou seu interesse no livro. Quanto ao tempo, no final das contas nós sempre encontramos tempo, rs! Um beijo!

    Syl, se você se interessou em ler o livro, então minha simples resenha cumpriu sua função, rs! Sobre meus textos no Cronópios, explico a você por e-mail. Um abraço, minha linda!

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  8. Meus queridos, minhas queridas, somente agora vi que não havia saído na postagem os grifos das citações do livro. No rodapé comuniquei que os grifos eram do autor, mas esses mesmos não estavam lá. Porém, agora está tudo resolvido. Aí estão os grifos, em negrito.

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