Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
(Final do discurso do barbeiro judeu no filme O grande ditador, de Charles Chaplin)
― Olha que coisinha linda. Esse bigodinho vai dar o que falar. O mundo, o mundo todo vai comentar esse meu bigode surreal. Olha só que beleza. Quando eu dominar o mundo, meu bigode será tão famoso e copiado como meus atos; minha grandeza e meu bigode serão invejados. Seremos a face do mundo forte e moderno ― dizia imponente, enquanto mirava o pequeno traço vertical sobre o lábio superior. ― Aquele idiota da Inglaterra, quando eu dominar o mundo, será taxado como um palhaço invejoso que quis copiar e ridicularizar o bigode de um imperador. Um dia ainda quebro aquela bengala na sua cabeça de comediante duma figa.
(Final do discurso do barbeiro judeu no filme O grande ditador, de Charles Chaplin)
― Olha que coisinha linda. Esse bigodinho vai dar o que falar. O mundo, o mundo todo vai comentar esse meu bigode surreal. Olha só que beleza. Quando eu dominar o mundo, meu bigode será tão famoso e copiado como meus atos; minha grandeza e meu bigode serão invejados. Seremos a face do mundo forte e moderno ― dizia imponente, enquanto mirava o pequeno traço vertical sobre o lábio superior. ― Aquele idiota da Inglaterra, quando eu dominar o mundo, será taxado como um palhaço invejoso que quis copiar e ridicularizar o bigode de um imperador. Um dia ainda quebro aquela bengala na sua cabeça de comediante duma figa.
Referia-se ao humorista britânico que atendia no cinema pelo nome de Carlitos, a quem ele odiava brutalmente por suas paródias sobre sua postura militar, principalmente pelo filme que ridicularizava sua figura na imagem de um grande ditador. Na verdade, a boca miúda, todos comentavam que o Grande Líder havia se inspirado no bigode do comediante por achar que usando um adereço já famoso poderia mais facilmente deixar uma marca pessoal. Mas não temos como provar tal comentário. Contudo, ainda dizem que o lançamento do filme “O grande ditador” foi uma vingança do humorista contra o plágio de seu bigode. Mas continuemos.
― Bigodinho lindo, bigodinho lindo, quando pegarmos aquele doidinho cortaremos seu bilauzinho ― cantava para o desespero do iguana parado sobre uma bancada ao seu lado que não conseguia levar as mãos aos ouvidos e evitar tão purgante melodia.
Quando parou a melodia, interrogou seu companheiro: ― E então mestre iguana, gostou do meu belo bigode? Gostou, claro que gostou. Estou bem mais bonito do que o inglesinho folgado, não estou?! Aquele inglesinho idiota vai ver só uma coisa quando eu o pendurar pelas bolas num fio elétrico ― e deu uma daquelas risadinhas típicas de quem rir fazendo bico na letra “i”. ― Eu só queria saber como ele soube dos meus campos de concentração ― disse olho no olho do lagarto incrédulo ―, como ele soube das mortes por lá? Vamos, me diga, eu ordeno que me diga! ― ordenou com voz de trovão desafinado, mas o iguana não se intimidou e continuou lá com cara de Vai se danar, seu maluco!
― Ontem eu vi o filme daquele imbecil ― continuou ―, aquele do ditador. O canalha mostrou cenas que descreveram perfeitamente o que eu estou fazendo nos meus campos. Como ele soube? Ele é alguma espécie de adivinho, bota baralho, joga búzios, tem bola de cristal. Ah, se eu pego aquele bastardo adorador de judeus, argh! ― rosnou entre dentes. Mas logo depois controlou seus ânimos: ― Vamos nos acalmar, vamos nos acalmar! Falta pouco para eu ser o dono do mundo, além do mais não devo fazer muitas caretas que posso derrubar o meu bigodinho; deu muito trabalho colar isso aqui com fita adesiva, sabia? ― se o iguana sabia, não se importou com a pergunta por que virou a cabeça pro lado contrário. ― Você acha que eu raspei o meu próprio bigode? ― prosseguiu como se o lagarto quisesse ouvir. ― Nada disso, eu mandei o meu barbeiro real fazer um pra mim. Claro que depois eu tive que matá-lo; já imaginou se ele bate com a língua nos dentes e diz por aí que meu bigode é falso?! Você não acha que está meio torto, meio penso para a direita? ― tudo o que o iguana fez foi olhar nos olhos do ditador e colocar a enorme e fina língua para fora, como se dissesse Aqui pra você!
Na verdade, lamento informar, foi a última vez que o iguana colocou a língua para fora; o futuro dono do mundo sacou uma machadinha que se encontrava sobre à parede, acima do lagarto, e decepou a língua do bicho: ― Isso é para você aprender a não me desrespeitar, rabudo!
(Dois dias depois o rabudo morreria.)
― Agora está na hora de ir ― disse soltando a machadinha ―, meus súditos me esperam ansiosos. Tenho certeza que vão ficar deslumbrados quando virem esse bigodinho charmoso sobre meus lábios imponentes ― e vestiu o smoking reservado para as grandes ocasiões. A daquela noite, seria uma sessão no cinema Mein Gott (Meu Deus), nome dado por ele em homenagem a ele mesmo, onde se exibiria um filme sobre o mais recente herói da pátria, um soldado brilhante que, sozinho, fora capaz de matar oitenta e cinco judeus, tendo em mãos apenas um revolver de seis tiros. Uma espécie de ancestral do MacGyver, personagem do cinema americano, cheio de talento em fugas e explosões impossíveis.
Quanto ao bigode, seria um sucesso entre os súditos de bom gosto presentes no evento, naquela noite. Pena que não seria visto por muito tempo.
Imagem: Avyaya, Hitler VS. Chaplin.
Rararara, muito bom! Aliás, é de se pensar. Será que o "Grande Líder" plagiou o bigode do "Vagabundo"? Adorei! Parabéns, William
ResponderExcluirAbraços
Vera, alguns dizem que o "Grande Líder" plagiou mesmo. Acredita-se que quando Hitler começou sua escalada ao poder, de forma mais concisa, Chaplin já era famoso, ele o primeiro teria usado seu modelo de bigode para se aproximar das massas. Reza a lenda...
ResponderExcluirObrigado, minha linda!
Que ironia delicada esta sua, William! Bem a altura de duas das maiores personalidades do planeta!!!!
ResponderExcluirSe Hitler e Chaplin pudessem ler este texto, com certeza o discutiriam entre si! rs
Bruna.
Obrigado pela leitura, Bruna. Gostaria que eles lessem, rs!
ResponderExcluirAdorei seu texto ! Abraços sylvia
ResponderExcluirQue bom que gostou, Sylvia. Obrigado pela leitura. Um abraço!
ResponderExcluirContinuo achando muito desagradável o q houve no cronópios ! Você faz muita falta lá !!! Prosseguirei lendo seus textos [aqui] e apreciando sua capacidade de escritor-poeta [e ser humano] ! Abraços sylvia
ResponderExcluirSylvia, obrigado pelo carinho. Você será sempre muito bem-vinda aqui. Um grande abraço!
ResponderExcluirEscrevi 2 comentários e ...não chegou !Bem , mas era p elogiar , como sempre seus textos ´p variar] Abraços mil sylvia
ResponderExcluirDesculpe.........Enviei 2 textos e NAO Chegaram !!! Que concordãncia é essa !!! Abraços[ah ah ah ] syl
ResponderExcluirObrigado por tentar, Sylvia, e por sempre estar aqui. Um grande abraço!
ResponderExcluirCorrijo: 2 textos não chegaram..... !!!! Que distração [ e burrice]!!! Abraços syl
ResponderExcluirSylvia, ahahaha, nossos dedos têm vida própria, algumas vezes. Abraço!
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