Um “viva” aos militares!

Esses dias os militares brasileiros resolveram comemorar os quarenta e cinco anos do golpe militar. Foram às ruas em desfile com toda a sua pompa. Que maravilha! Foram às ruas comemorar o dia em que tomaram o poder das mãos de um governo eleito, foram comemorar o dia em que, sob a força bruta e bélica, agiram feito animais ferozes sem respeito pela vida humana, sem respeito pelo estado de direito, o dia que marcou o início de uma era de violência, de assassinatos frios e estúpidos, de pessoas desaparecidas, do fim da liberdade.

Mas infelizmente houve protestos nas ruas, pessoas que não entenderam o quanto era justa a comemoração virulenta desses senhores que tanto mal fizeram ao país. Que malvados! Mas por quê? Eles só estavam comemorando os crimes que cometeram, dando chance às mães de homens mortos na ditadura de apertarem as mãos de seus carrascos e dizer Obrigado ao senhor, General, por ter matado os meus dois filhos, muito obrigado!, Por nada, senhora, foi um prazer imenso, pode ter certeza, matar os seus filhos, mas não se esqueça que eu só os matei depois de praticar diversas torturas ferozes, claro! Foi lindo, senhora, foi lindo.

Bons tempos aqueles, bons tempos! Aiaiai!, É, general, deve ter sido lindo mesmo ver o meu filho gritando antes de levar uma bala na cabeça, Foi sim, foi sim! responderia o general com a mão pousada sobre o peito, de queixo erguido, olhando para o horizonte, orgulhoso pelo prazer da honra de cumprir o seu dever para com os seus interesses.

Se os pais quisessem comemorar e não protestar, poderiam ter beijando as mãos de capitães agradecendo a morte de seus filhos, O senhor não sabe, capitão, como eu lhe serei eternamente grato por ter matado meu filho, é verdade que até hoje não encontraram o seu corpo, ninguém sabe o seu paradeiro, só sabem que ele foi torturado e depois sumiu. Mas obrigado, senhor, pelas torturas, eu soube que quebraram todas as costelas dele, todos os dentes, os dedos também, ah que obra de arte, hein?!, É verdade, diria o capitão, foi uma obra de arte, com certeza. Quanto ao corpo, deve ter sido jogado no mar ou em alguma outra água; sempre fomos bons nisso. Tudo pelo bem de nossas fardas, hehehehe!.

E você aí, não foi lá comemorar com os fardados? Perdeu a chance de dizer Muito obrigado por todas as atrocidades que os senhores nos fizeram, muito obrigado por matar nossos pais, por matar nossos irmãos, por tirar o nosso direito de ir e vir, por serem tão animais, tão arrogantes, tão grotescos, tão estúpidos, enfim, você perdeu a chance de dizer Muito obrigado por nos terem feito tão mal, por terem feito o Brasil parar durante anos e retroceder à idade da pedra? Você perdeu a chance?

Mas eu ainda tenho uma pergunta: que tipo de acéfalo vai às ruas comemorar um golpe de estado que proporcionou toda a sorte de atrocidades e desrespeitos à vida humana e ainda se irrita com os protestos feitos contra ele dizendo que o país precisa conhecer a verdadeira história e não as mentiras que contam por aí? Afinal, isso foi alguma piada de mau gosto?

Imagem: Salvador Dali, A face da guerra (The visage of war), 1940.