O meu Monteiro Lobato, na verdade, não existiu. Nunca tive alguém que fosse o meu incentivador, que fosse a pessoa a me inserir no mundo da Literatura. O meu interesse por essa arte surgiu por acaso e se desenvolveu pelo meu próprio interesse, por uma centelha que se abriu dentro de mim aos oito anos de idade, quando participei de um concurso de poesia na escola onde estudava e o venci. Desde então passei a me viciar em leitura, lia tudo o que me aparecia pela frente. Lembro que andava pelos corredores da escola lendo tudo o que via nos flanerógrafos: mensagens, avisos, convites para eventos, tudo. Na época não tinha dinheiro para comprar livros, nem meus pais poderiam me comprar tudo o que eu quisesse ler, então lia o que podia; também não tinha quem me emprestasse livros, nem meus professores se interessavam em difundir as letras em mim, nem mesmo a professora que organizou o concurso: ganhei o concurso, mas não ganhei um livro para ler, recebi como prêmio o equivalente a dez reais.
Porém, ainda nesse período conheci um poema que me serviu como espelho literário para os meus primeiros versos. O poema é Ismália de Alphonsus Guimaraens, e seus primeiros versos são: “Quando Ismália enlouqueceu,/ Pôs-se na torre a sonhar.../ Viu uma lua no céu,/ Viu outra lua no mar./ No sonho em que se perdeu,/ Banhou-se toda em luar.../ Queria subir ao céu,/ Queria descer ao mar...”, e assim por diante. Esse poema, de um dos maiores poetas simbolistas do Brasil, me atraiu bastante e me fez sonhar muito com a imagem do momento retratado nos seus versos, até porque havia no livro didático onde encontrei o poema uma gravura representando-o, e isso contribuiu para visualizar o contexto do poema. Já os textos em prosa que eu também compus nesse período não tiveram influência direta de nenhum autor ou obra, foram uma incidência de tudo o que eu havia lido até então.
Quanto à leitura, infelizmente não tive incentivadores. Meus professores não pareciam se importar com isso – já na faculdade encontrei um professor que me disse Não vale apena escrever, publicar livros, já tive alunos que publicaram e no dia do lançamento não apareceu ninguém, então é melhor esquecer. Não esqueci, não sou do tipo que atende a conselhos desse tipo antes tentar, e, por isso, estou aqui com alguns livros publicados. Quanto a meus pais, esses se interessavam em que eu tirasse boas notas, e não viam perspectiva para eu ser escritor; assim acabei sendo o meu próprio Monteiro Lobato. E não sei exatamente o que me aconteceu para que eu me sentisse tão interessado nos livros, apenas fui despertado pelo concurso e depois, acredito, pelo próprio romantismo do ato de ler e pela curiosidade de querer sempre conhecer mais.
Contudo, apesar do meu crescente interesse pelos livros, devido à condição financeira na época, ainda passei um bom tempo lendo poucos livros, um longo período lendo livros apenas quando a escola exigia para os trabalhos de Literatura e que meus pais tinham que comprar – aqueles livros da série Vaga-lume que eram obrigatórios em certas épocas do ano para se ler e depois responder às questões de interpretação que os acompanhava. Com esses livros obrigatórios eu matava a minha vontade de ler.
O que me manteve dentro do mundo literário quando não tinha dinheiro para comprar livros e possuía uma sede enorme de leitura foi à biblioteca da faculdade; pouco tempo após entrar no curso de Letras o meu cartão da biblioteca já estava cheio, eu havia lido tudo o que podia e anotado o nome de todos os livros que li para depois comprá-los e fazer minha própria biblioteca – o que fiz realmente quando passei a poder comprar meus próprios livros; hoje tenho minha biblioteca particular.
Então, para finalizar, se tiver que apontar o meu ponto de partida para a arte literária, apontarei o concurso do colegial e o poema Ismália como primeiros contatos com a arte literária e centelhas que me impulsionaram a apreciar a Literatura.
Imagem: Odilon Moraes, para a edição especial do poema pela editora Cosac Naify.
Como sempre uma ótima crônica, que bom que,apesar da falta de incentivo tenha se tornado um escritor.
ResponderExcluirTb gosto de Ismália.
beijos ternos
William,
ResponderExcluirVocê é um grande homem,obrigada por você existir,
menino gênio,parabéns!!
beijao
Mari
Eu também não tive um precursos pela leitura. Só tinha a escola para suprir esta futura vontade, pois meus pais não tiveram uma escolaridade completa, e mal tinham o hábito da leitura. Muito surgiu das brincadeiras que fazia e desenhava em papéis, lousa, das coisas que muito via pela tv também. Mesmo assim, aprendi muito...
ResponderExcluirNo meu caso, o concurso de poesia que participei, fiquei em útlimo (mas descobri depois que era "marmelada" dos organizadores e o meu era um dos preferidos da professora, que depois expôs à classe!).
Um abraço.
Marcelo.
Oi William,
ResponderExcluirQue bom que, mesmo sem incentivos, você avançou no mundo das palavras. Se não teve que o guiasse, teve ao menos a vontade própria de prosseguir. Arrisco a dizer que estava escrito.
Abraços.
Menino Gênio,
ResponderExcluirfiz uma indicação de seu blog,
sem sua autorização,espero
que não se zangue...
fique atento,ao seu email
bjs
Mari
Tambem escrevo poesias, desde menino.
ResponderExcluirAbracos
Parabéns pela persistência e força de vontade! Se as virtudes que são brotadas dentro de nós fossem levadas à termo, quem sabe existiriam menos pessoas frustradas no mundo, não é mesmo? Beijus
ResponderExcluirWilliam, a organização do "evento" tomou um tempinho e não pude aparecer aqui antes. Muito obrigada por contribuir para o sucesso da coletiva.
ResponderExcluirE parece que seu Monteiro Lobato é você, que fez a si mesmo a despeito do mundo, Já conheci alguém assim, que me deu o sobrenome e de quem tenho muito orgulho. Obrigada por fazer parte desta coletiva
Abraço
Oi, já está no Fio a lista com os textos selecionados para a votação que premiará três blogueiros com um livro da Zahar. Conto com você para ajudar nesta tarefa. O link é http://tinyurl.com/dnlozq
ResponderExcluirAh, seu texto está na lista !
Abraço
Sua história mostra a importância de gostar da leitura, pois isso faz com que criemos alternativas para obter o que ler.
ResponderExcluirParabéns por ter ficado entre os 8 melhores textos.
Desejo sorte.
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
ResponderExcluirMeu percurso de leitura foi um pouco com minha mãe, mas muito pouco. E o restante comigo.
ResponderExcluirHoje sou bibliotecária e quando trabalhei com crianças sempre incentivei a leitura.
Beijos Tempestuosos!
Não tive tempo de ler todos os outros textos, mas estou lendo agora cada um. Ismália realmente é uma poesia muito boa. Achei interessante você lembrar dela, porque também tenho boas lembranças dessa leitura. No mais, você escreve muito bem. Não pelo fato da escrita em si, mas o que nos encanta é a alma dentro dela.
ResponderExcluirum abraço
Sabe, William, o que mais admiro nesse texto - depois de sua vocação impressionante para as letras - é uma qualidade que me falta: a capacidade de explicar as coisas em detalhes, como você fez. Adoro escrever, mas tenho pouca paciência, e acabo "matando" coisas que poderiam melhorar a qualidade do que escrevo.
ResponderExcluirParabéns! Um abraço.
Oi William, estou vindo conhecer o seu texto, pois, vi que vc foi um dos indicados.
ResponderExcluirGostei muito do seu texto.
Tenho um blog só de leituras.
E todo dia 20 de cada mês entrevistamos um autor.
Quer vir nos conhecer?
http://www.elasestaolendo.blogspot.com/
Teríamos o maior prazer.
Abracos
Marcia,
ResponderExcluirObrigado. Você sempre gentil, menina. Que bom conhecer outra fã de “Ismália”.
Um beijo grande!
Mari,
Não sou grande, tenho estatura mediana, rs!. Não fale assim de mim, posso ficar cheio de pernas e não terei lugar para escondê-las.
E obrigado pela indicação que fez do meu blog (Foi para quê mesmo?).
Um beijo!
Marcelo,
Então você não foi o último no concurso, sinta-se o primeiro. A colocação não importa, muitas vezes o melhor não é reconhecido, você foi por sua professora, isso mostra que foi bom o que fez.
Obrigado pela visita, meu amigo.
Um forte abraço!
Luciano,
Obrigado pela visita. Na nossa força de vontade e crença em nós mesmos é muito importante para chegarmos onde queremos, ou pelo menos para continuar lutando.
Um abraço!
Pai dos trigêmeos,
Continue escrevendo, faz bem. Ainda escrevo poesia, apesar de, no momento, estar mais voltado para o romance.
Obrigado pela visita.
Um abraço!
Luz de Luma,
Você tem toda razão, menina. Devemos levar mais a sério aquilo que queremos, como mais força e persistência.
Um beijo!
Vanessa,
Obrigado a você, e muito obrigado por eu estar entre os escolhidos. Você sempre generosa. Que bom que tem alguém do seu lado que você pode admirar, isso é muito bom.
Um beijo, menina!
Catarino,
Obrigado pela visita (Eu soube por você que estava entre os 8, vi sua mensagem antes da mensagem da Vanessa – estive ocupado). Ler é realmente algo importante na vida das pessoas, pena que algumas vezes é difícil fazer outros acreditarem, mas continuemos tentando.
Um abraço!
Neto,
Obrigado pela visita. Mas não entendi o “zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz”. Meu texto provocou sono em você? Rs!
Tempestade,
Que bom que você trabalha com livros. Bibliotecária é um cargo muito importante para quem busca livros, a ajuda que você pode dar, o esclarecimento é um passo a mais para incentivar novos leitores.
Um grande beijo, menina!
Rômulo,
“Ismália” é um grande poema.
Obrigado por suas palavras e pela sua visita.
Um abraço!
Adelaide,
Obrigado pelo que escreveu. Tenha um pouco mais de paciência e você escreverá como deseja.
Um beijo, menina e obrigado, mais uma vez!
Georgia,
Obrigado pela visita e pelas palavras. Conheço vocês e sempre apareço por lá, mesmo quando não deixo comentário.
Um abraço!
Dário,
Obrigado pela colocação do meu blog nessa lista.
Um grande abraço!
olá William,
ResponderExcluirobrigada por seu retorno. Com respeito e admiração a todos os que escreveram, a todos que foram escolhidos merecidamente para a final, mas seu texto m tocou sensivelmente. Acho pq sou pedagoga....e acredito muito no ser humano...no humano.....sou progressista de uma abordagem construtivista, portanto.....aquele que se desenvolve por meio de si com a ajuda do meio social favoravel ou não, é um vencedor....é um lutador..mesmo que numa "luta" solitária, pois com toda ajuda já é um tanto dificil, quem dirá sem incentivos ou estimulos.
Parabéns pelo seu lindo texto. Vc ainda é o meu texto escolhido-como já disse, sem desmerecer os outros.
bjus e até mais, bom final de semana, e volte sempre ao meu humilde blog...(afff...mal de pedagoga, falar demais e ainda serei como vcs todos da blogagem...grande!!!)
laura- coisas frágeis
Parabéns pelo blog e por sua dedicação, ainda bem que criou um blog!!
ResponderExcluirBeijos
Eu nunca ví um homem com muitas pernas!!
ResponderExcluirIndiquei ,para verificação da Veja.
beijos azuis,amigo
Mari
Vc acredita que já nascemos com talentos intrinsecos no nosso DNA? Eu acredito,principalmente quando vejo relatos como o seu,pois o seu amor e interesse pelas letras não foi incentivado de maneira apropriada,já existia dentro de vc esta sede do conhecimento...Existem pessoas que adoram matemática (aff!!),existem outras que amam as letras...Vc é um vencedor meu lindo,por não deixar esta chama do conhecimento e principalmente seu talento morrer pelos obstáculos que lhe apareceram no caminho...E este professor da faculdade,hein? Meu Deus!! Completamente desesperançado e amargurado e ainda por cima quis entulhar seus poços e lhe fazer desistir!!Fala sério!!!
ResponderExcluirBjus e amei seu texto...
Oi William!A blogosfera exige um tempo que nem sempre tenho em determinados momentos, mas, cá estou (antes tarde do que nunca!rs). Gostei de sua trajetória e de como a literatura passou a fazer parte de seu mundo, aliás, adorei saber que fez faculdade de Letras, pois, tenho muito carinho por esse curso. Sobre os professores, creio que eram condicionados por algumas metodologias comuns e o reflexo do pouco incentivo às leituras, até mesmo em concursos, como aconteceu contigo (e comigo!rs), pode ter deixado muita gente sem estímulo para continuar a desenvolver o prazer pela leitura, portanto, devo crer que há algo maior em cada um de nós, essa tal vocação ou um dom divino, foi o que impulsionou você a continuar e superar aquilo que até poderia ter sido muito mais simples, não é? Linda história!Especialmente porque não houve o esperado (desistir/desanimar) e sim, o inesperado (conquistas!). Bjins e até!
ResponderExcluirFlor da palavra,
ResponderExcluirObrigado pela leitura e pelo carinho!
Um beijo!
Lis,
Esse meu professor não foi muito útil, mas meu desejo pelas letras era maior do que ele.
Um beijo, Lis.
Jô,
Eu também venho pouco à blogosfera. Obrigado pela leitura, e fico feliz que tenha gostado do texto. Minha trajetória é de persistência.
Um beijo, menina!