25/02/2009

fevereiro 25, 2009
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Você acha que sua vida anda de mal a pior? Coisas inexplicáveis andam acontecendo? Nada que você faz dá certo? O mundo parece tramar contra você? Você pode estar sendo vítima de uma maldição. Já olhou bem a sua boca? Não percebeu se nasceu um dente na gengiva superior que não deveria estar lá? Se a resposta for sim, eu tenho a solução: case-se, o mais rápido possível, com uma cadela. Ah você é uma mulher, me desculpe. Que tal se casar com um cachorro? Não faça essa cara, isso pode lhe salvar de maldições. Em certa região da Índia isso funciona, por que não funcionaria com você?! “Hi-hi-hi-hi-hi! Casar com um animal... você é engraçado, William, quem é que se casaria com um animal? Fala sério, meu bom!”. Meu querido amigo, Pacu, estou falando sério, “Ah, para com Wilson, deixa Dílson!”. Seu humor algumas vezes me comove, Pacu, “É?! Legal!”, é legal.

Vou explicar: segundo testemunhas, no dia 18 de fevereiro, foi realizado o casamento de um pequeno menino com a cadela dos vizinhos (quando digo cadela dos visinhos não estou fazendo uma daquelas gracinhas em que você diz Oi, encontrei ontem a cadela da sua irmã, ou vi ontem o cavalo do seu pai, para dar um duplo sentido ao texto, aqui cadela é cadela: quatro patas, um focinho, se comunicar fazendo auau e abanando o rabo – se não tiverem cortado – etc.). Não gargalhem, vocês não conhecem a cadela, vai que ela é uma gata – se bem que gata não dá pra ser, já que ela é uma cadela –, vai que ela é uma... ah, vocês entenderam; ela pode ser uma cadela esbelta, charmosa, sensual, latir manso e uivar roucamente.

Esquecendo um pouco a sensualidade da cadelinha, como terá sido a lua de mel?

― Amor, não late, não late, vem aqui, senta, senta, você tá me mordendo sua cadela desgraçada ― e a cadela sem o direito de reclamar do palavrão.

E os amigos?!

― É isso aí, têm que manter a esposa na coleira mesmo!

Se bem que a criança é tão criança que não deve nem saber falar direito, tem menos de dois anos de idade, isso mesmo, menos de dois anos.

“Mas por que casaram uma criança com uma cadela?”, vocês me perguntam. “Que maldição eles queriam evitar e o que provocou isso?”. O estopim para o evento foi o seguinte: nasceu um dente na gengiva superior do menino. Quer mais? Isso já não é o bastante? Pessoal, um dente na gengiva superior, por favor, ainda querem um motivo maior do que esse?! Vocês são muito incompreensivos, sinceramente! “E qual a ligação entre nascer um dente na gengiva superior e uma maldição, rapáááá?”. Você de novo, Pacú?!, “As pessoas querem saber, meu bom!”. Tudo bem, vou contar o que sei: parece que alguns por lá acreditam que isso é uma maldição, isso de nascer um dente na gengiva superior, e, portanto, se o menino não se casa-se com a cadela poderia ser morto por animais selvagens. Vejam o que teria dito Sanarumala Munda, o pai de Sagula, o noivo feliz: "Realizamos o casamento porque isso vai superar qualquer maldição que possa cair sobre a criança e sobre nós".

E a cerimônia, querem saber como foi? Não foi qualquer coisa não, cerca de 150 tribos realizaram o ritual, que se deu no distrito de Jajpur, no estado de Orissa, com direito a hinos em sânscrito, cantados enquanto o noivo da bichinha era carregado por sua família em procissão até o templo onde se encontrava sua noiva, Jyoti. Ah, o amor, o amor, o amor, o amor. E a criança até agora não faz a menor idéia do que aconteceu, nem por que a bela Jyoti não sai de perto dele.

Ainda segundo testemunhas, o casamento não foi triste; por que seria, por causa da diferença de raça? Nada disso, o casamento foi profundamente festejado pelos moradores com comidas e bebidas, Quer um quitutezinho aí? alguém deve ter pergunta ao pai da noiva, algum cão enorme imaginando se seu netinho será um Minocane (inventei essa palavra baseada no Minotauro mitológico, substituí o tauro, de touro em latim, pelo cane, de cão, em latim. Mas afinal quem quer saber disso?). O cão pai, ou seria melhor dizer o pai cão? Enfim, ele também se achava feliz por outro motivo: não precisou pagar nenhum dote,

― Deu tanto trabalho encontrar aqueles ossos nessa terra dura, imagina se eu tivesse que dá-los como dote pelo casamento da minha cadelinha? ― teria dito o pai, futuro avô de uma nova espécie.

Alguns de vocês podem estar pensando E o garoto nunca poderá se casar com uma humana?, claro que poderá, também não é assim, ele poderá, no futuro (não sei quanto tempo demorará a chegar esse futuro), se casar com uma humana, sem pulgas, sem (isso é o mais importante), sem precisar se divorciar de sua noiva canina. E então, não é uma maravilha?

Agora falando quase sério: apesar de esse casamento ser verídico, apesar de realmente esse evento ter acontecido, os casamentos entre pessoas e animais não são reconhecidos pelas leis da Índia, esse ritual ainda existe (ao que parece essa não foi a primeira vez que algo assim aconteceu) em áreas rurais e tribais de lá por influência do analfabetismo que ainda impera nessas regiões, e o analfabetismo, unido ao distanciamento das civilizações modernas, leva ao cultivo, ainda hoje, de ritos bizarros praticados no passado.

E agora já chega! Vamos parar por aqui antes que alguém que esteja lendo isso acabe por se lembrar de seus tempos de fazenda e ache que deveria ter se casado com a jumenta da sua mãe, digo, a jumenta que pertencia a sua mãe, aquela que o ajudou a descobrir o prazer ainda na puberdade. Tive um vizinho que certa vez trouxe para trabalhar na reforma de sua casa um rapaz chamado Juvenaldo, e certa vez ele interrompeu uma conversa entre mim e meu vizinho, quando falávamos sobre os namoros frustrados que tivemos, para nos dizer que muito melhor do que mulher era... Bem, deixa pra lá, vou poupar os mais sensíveis. Mas espero que o garoto trate bem sua cadela consorte (ou deveria dizer com sorte?); considero um dos maiores absurdos os maus tratos de homens contra suas esposas.

“É isso aí, William, tô contigo e não abro”, cala a boca, Pacu!




Fonte da reportagem: Reuters.
Imagem 1: MASACCIO, Putto and a Small Dog.
Imagem 2: Mutley, desenho de autoria de Hanna-Barbera.

11 comentários :

  1. Nossa, se cada dente que aparecesse desta forma no povo daqui, estaríamos todos eternamente amaldiçoados, em compensação não teríamos mais cães sem dono, né? rss

    Cada uma... Mas eu ainda prefiro continuar sendo brasileiro, independente da educação duvidosa ou discutível que "temos".

    Um abraço.
    Marcelo.

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  2. É, Marcelo, temos uma educação discutível, mas o mundo todo tem. A questão é até que ponto trata-se de educação discutível ou de cultura, ou ainda interpretação de cultura; soa um pouco como manifestar sua opinião sobre algo e ser mal interpretado pelo outro, como se você tivesse que concordar com ele. No entanto, no que diz respeito a esse caso do casamento menino-cão, especificamente, não vejo como cultura, mas como um problema de educação, quanto menos se sabe, mais ingênuo se pode ser.

    Obrigado por mais essa visita.

    Um abraço!

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  3. Pois é, William, foi o que eu encontrei neste feriado, quando visitei alguns blogs: os donos respondiam com grosseria aos que não concordavam com o que foi postado. Em um deles, eu aguardava o retorno duma pergunta que deixei, e fui tratado da mesma forma. Imagina se uma criatura dessas tivesse que dividir a "relação" com um cão? Acho que a maldição seria voltada para o bicho...

    *Ah, e de onde veio Pacu? rss

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  4. Olha, Marcelo, o Pacu é o nome de um peixe, mas isso você deve saber. Na língua indígena, significa “porco dos rios”, pois come quase tudo o que encontra. Por isso eu também coloquei seu nome no personagem para brincar um pouco com ele. Além do mais, sempre achei esse nome engraçado. Existe até uma brincadeirinha que diz “isso é pacu assado”, se referindo a algum remédio para ser usado no orifício acuado de um enfermo (gostou da metonímia: orifício acuado?). Algumas vezes eu não me caibo! (rs!)

    Quanto à má educação de blogueiros, escrevi um post sobre isso, e publicarei na próxima semana, falando sobre os melindres dos blogueiros e a incapacidade de aceitar opiniões contrárias. Inclusive no seu post sobre o carnaval eu até escrevi lá que não gostava de carnaval e axé, e fiz uma brincadeira sobre ser uma tortura pra mim. Eu realmente não gosto de axé ou carnaval, e sei que até exagerei nas palavras – provavelmente você gosta de carnaval e axé e eu falando mal no seu blog –, mas era só para extravasar a minha irritação com o domínio do carnaval na televisão e nos jornais (rs!). Serei mais metonímico da próxima vez.

    Um grande abraço, meu querido.

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  5. Você gosta de Pacu? Eu gosto de Tofu...com shoyu é uma delícia! rsss

    Até mais...
    Um abraço.
    Marcelo.

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  6. Olá,
    vim agradecer a visita,e dizer-lhe que fiquei aqui algum tempo,saboreando teus escritos,estou como seguidora,também disponho de pouco tempo.Seu comentário em meu blog,foí de grande valia,necessito desse olhar como referência,no longo caminho do aprendizado.Parabéns!

    Beijos
    Mari

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  7. É sempre recompensador passar por aqui...por isso passo muitas vezes.

    beijos ternos

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  8. As crendices surgem para tentar resolver ou dar respostas a problemas diários!!E como vc disse a maior parte destes costumes perduram em regiões mais pobres...No Brasil vemos vários casos assim.Li um texto em que as enfermeiras do PSF tem dificuldade de trabalhar em algumas comunidades devido as crenças populares.Ex: procurar primeiro o rezador, dizer que o leite do peito é fraco; colocar fitinha vermelha na testa para acabar com soluço (isto minha mãe fez muito rsrsrsrs por sinal ela aprendeu com minha avó kkkk), não dar banho na criança nos primeiros dias, pois ela pode morrer etc...
    Acredito que o solução para estes casos é o acesso ao conhecimento e a adequação da realidade da comunidade ao mundo atual.Como parte desta população tem confiança nos rezadores,porque não instruí-los aproveitando o que é válido e desencorajando as práticas as maléficas?Por sinal,esta é uma das soluçoes apresentadas por este texto que eu li!!

    E como se diz:Conhecimento é poder!!

    Chega!!Já escrevi muito!!Vou parar por aqui!!kkkkkk
    Amei o texto!! E acho a palavra pacu super esquisita mas o peixe é uma delicia!!
    Recomendo rsrsrsr

    Bjus e até mais...

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  9. Mari,

    Obrigado a você por vir aqui. E eu realmente gostei do que escreve e de como escreve, como escritor e leitor a tantos anos, tenho visto muita gente escrever e muita besteira mau escrita ser veiculada, então é mais do que feliz pra mim elogiar a quem merece.

    Um beijo, menina.

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  10. Obrigado, Marcia:

    É sempre bom ter você por aqui.

    Um grande beijo!

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  11. Lis,

    Concordo com você plenamente, conhecimento é poder. Quanto a essa fitinha vermelha na testa, eu não me lembro bem, tenho boa memória, mas coisas assim da minha idade bebê é difícil lembrar, no entanto algo me diz que também tive uma fitinha, ou linha, vermelha na testa. Tenho uma sobrinha que nasceu a um mês e já vi minha cunhada falando sobre essa simpatia vermelha na testa. Sei não, mas algumas vezes... sei lá.

    Beijo e obrigado por vir aqui.

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