Estive pensando no sentimento da amizade, depois que vi relatos maravilhosos num documentário: amigos que doavam órgãos para amigos, que emprestavam dinheiro, que hospedavam amigos em suas casas; amigos, amigos de verdade.
A amizade é uma coisa maravilhosa – quando existe; deve existir. Os amigos são cúmplices, companheiros, irmãos do peito. Entretanto, infelizmente e muitas vezes – muitas mesmo –, essa amizade é ilusória; há sempre alguém que é mais amigo do que o outro, há sempre alguém que é amigo enquanto o outro é colega, há sempre um que escuta as conversas do outro na madrugada enquanto o outro só fala, há sempre um que apenas precisa, precisa, precisa, esquecendo-se que o outro pode precisar também, “Cara, tô mal, ela me deixou”, “Putz! Eu imagino como você tá se sentindo”, diz o amigo, realmente preocupado, “É foda, cara! Não sei o que fazer, me ajuda, meu amigo, me ajuda!”, e o amigo de verdade ajuda, escuta, aconselha, leva pra sair, protege.
Alguns meses depois, o amigo descasado melhora; agora tem namorada, está feliz novamente, mas já não vê mais o amigo bom samaritano. Feliz e sem necessidades no momento, ele esqueceu o outro. Para que precisa do amigo? É o amigo que tem problemas agora? Paciência! O outro não tem mais tempo para ajudar, tem uma namorada para beijar, festas para ir e cervejas para beber, “Façam-me o favor”, diz o amigo que não chora mais, “não tenho tempo, minha namorada precisa de mim, tenho trabalhado muito, estou cansado, preciso comprar bolachas, preciso comprar coisas, amanhã vou cortar o cabelo, depois de amanhã vou depilar o peito – minha nininha-linda gosta assim –, além do mais o dia só tem vinte e cinco horas”, “Vinte e quatro!”, “Pior ainda! É muito pouco tempo para visitar meu velho amigo, que eu gosto tanto. Meu amigo vai ficar bem! Agora tenho que ir”.
Isso tudo me traz à lembrança uma siuação completamente diferente: os comerciais da TV com aqueles alegres sorrindo, cheios de dentes, onde a água os abraça no mar e nas piscinas, onde o sol é cuidadoso com suas peles; todos felizes na praia, em casa, na chuva, “Estou ficando toda ensopada nessa chuva, mas estou com você, minha amiga, isso é o que importa!”, diz a outra, incrivelmente linda e perfeitamente maquilada – apesar da chuva torrencial. “E isso existe?”, você me corta abruptamente, no meio da minha fabulosa cena lúdica, e eu, apesar da sua falta de paciência, respondo: Existe! Não com a mesma intensidade mitologicamente perfeita da TV, mas existe, os amigos existem (preciso crer nisso!); o mundo não seria tão cruel a ponto de não podermos confiar em ninguém. É que eles não andam dando bandeira por aí, mas estão em algum lugar; quem sabe não haja um aí do seu lado agora, enquanto você lê este texto?! É preciso acreditar; não se consegue nada sem risco, não é?!
Agora já chega! Vão! Saiam com seus amigos. É hora de largar este texto e ir para rua. O quê? Não sabe onde estão? Ligue para eles, ora! Ah não atendem?! Entendo... Mas tenha calma, sabe como é: dezembro, mês de festas, compras de presentes, a namorada quer um beijinho, são tantos afazeres que não sobra tempo nem para o telefone, “Diz que eu tô ocupado, não posso atender!”, isso acontece, algumas vezes os dias são curtos para se fazer tudo, e mês de dezembro... hummm... mês complicado, mês complicado, mês muito complicado.
Imagem: Charlie Chaplin no filme Vida de cachorro, 1918.
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ResponderExcluirmas se bem que se eu não fosse fazer uso de nenhum comentário eu não estaria aqui me segurando pra dizer algo, primeiro porque normalmente acho que só se deve falar algo se for realmente importante, já temos muito blá blá blá blá blá nesse mundo cão.
mas essa sua visão eu diria que aquarianística, rs, é incrível é sensível e consegue me tocar e me toca como muitos textos não fazem.
Creio que enquanto pensamos nos amigos que queremos ter, esquecemos muitas vezes daqueles que já possuimos, não os dando o devido valor.
ResponderExcluirTalvez por não serem a perfeição que sonhávamos, por não reagirem como achamos que eles deveriam, por não se apresentarem como gostaríamos, por queremos situações menos complicadas ou mais fáceis, blá blá blá.
Acredito que muitas vezes nós mesmos afastamos ou aproximamos as pessoas, quando resolvemos só aceitar oque consideramos melhor para nós, esquecendo que existe o outro. Então, se este estiver feliz e puder levantar o meu astral... ótimo, caso contrário nem adianta, pois já tenho meus próprios problemas.
O problema de estarmos sempre nessa busca constante, talvez seja por não darmos valor aos "Zé Bonitinhos" ou as "Mariazinhas" que se aproximem de nós. Afinal, queremos sempre o melhor.
Sempre achamos que vai aparecer um mais atencioso, mais bonito, mais atraente, mais carinhoso, mais sensível, mais atlético rsrrsss, mas performático srsrss e não percebemos que o "Zézinho e/ou a Mariazinha" é o cara! rsrsrsrsrsrs, com todos seus defeitos e qualidades, talvez não tão bonitos quanto gostaríamos, talvez não tão sei lá oque, mas...
E de repente os perdemos por não valorizarmos tudo o que eles nos fazem sentir, enquanto fazemos nossa lista de exigências, os moldes, queremos que eles sejam perfeitos e exatamente do jeitinho que a gente gosta. Mas e nós? Somos perfeitos? Eles têm que gostar de nós como somos: com defeitinhos, mau humor, manias, mas também com muitas qualidades que poderiam ser melhoradas..., mas nós podemos gostar deles como eles são?
É... amizade não é coisa fácil e nem sempre, mas algumas vezes, custa caro, mas se tiver uma base sólida, agente paga qualquer preço.