O bigode magoado

Esta semana senti dó de alguém. Foi muito, muito difícil para mim, ver aquele homem ali, diante seus colegas de trabalho, diante à TV, procurando se explicar, rebatendo as acusações feitas a sua ilustre, ilustríssima pessoa. Como deve ser difícil ser acusado assim... Ser acusado simplesmente porque não avisou de algumas contratações.

― Opa! Esqueci.

Ah, não deve ser nada fácil ouvir o seu nome em várias acusações, como se você fosse um criminoso.

― Poxa! Eu só peguei um pouquinho dos cofres públicos. Meu genro também tem que trabalhar!

Que coisa difícil, hein?! Mas o que parece ter deixado esse grande político mais irritado, transfigurado, estarrecido, ferido em seu coração bom e honesto, foi o fato da sua falta de privacidade.

― Não temos mais direito a privacidade, nos espiam de todos os lados.

Como tive dó daquele bigode. Por acaso é possível um homem se apropriar do que não lhe pertence com escutas telefônicas, investigações, olhos atentos... é possível? Claro que não! Não sei nem como expressar o que o bigode deve estar passando.

― Essa maldita política dos opositores, deve estar cada vez mais difícil abocanhar um dinheirinho sem que fiquem todos sabendo.

Mas que coisa, que vida injusta, ele só quer uns milhõezinhos para si, para sua filhinha doce, seus filhinhos desprotegidos, seu genro querido... Como se pode manter fazendas, impérios desse jeito? Como se pode conservar um coronelismo dessa forma?

― Será que não entendem: sou inocente? O presidente acredita em mim, não viram que as investigações foram negadas? Não podem basear ataques e investigações em notícias na imprensa. Querem me imprensar, querem destruir um homem honesto que muito fez pelo Brasil, e ainda faz.

O que querem, que ele morra de fome? Como a sociedade brasileira é injusta, mal-agradecida. Por que detestam tanto o bigode? Por que não vão amolar as focas, elas também têm bigode?



Imagem: montagemda internet.