Entre frases e declarações ateístas foi, talvez, o mais religioso dos ateus. Impossível? Não em seu caso. Saramago escrevia de uma forma religiosa, mesmo quando criticava religiões ou a crença num Deus criado pelo homem, segundo ele. A linguagem de seus personagens, o meio, os temas, tudo cheirava um pouco à religião. Talvez influência da cultura religiosa cristã que nossos povos têm, talvez propositadamente. Mas não me lembro de alguma vez ter sido desrespeitoso com a crença alheia; crítico sim.
Saramago foi mais do que um escritor, foi um homem de ação política. Falava o que pensava, o que julgava ser certo e não se calou, nem mesmo, quando o governo de seu país e a Igreja criticou agressivamente um de seus livros, “O evangelho segundo Jesus Cristo” – inclusive a Igreja criticou também a atribuição do prêmio Nobel ao escritor, pelo fato dele ser “um comunista inveterado”, nas palavras dos religiosos.
Saramago foi um homem forte de opiniões fortes, e independente de gostar ou não de sua forma de fazer literatura, de seu estilo e seu posicionamento sobre diversos temas, foi, e é – sua arte o tornou imortal –, alguém que se deve respeitar.
Sempre gostei de sua literatura; nunca vi problemas nas suas muitas vírgulas e poucos pontos. Alguns alegam não compreenderem seu texto, considerando-o pouco “claro”; quanto a mim, nunca vi falta de clareza no seu texto. Talvez falte aos que não o compreenderam um pouco mais de dedicação à sua forma, de entrega ao seu estilo ou, talvez, a obra de Saramago simplesmente não faça parte do estilo desses leitores.
Enfim, grande José Saramago, num mundo onde a literatura comercial, a literatura de alto-ajuda e a literatura de séries cinematográficas adolescentes são os livros mais vendidos, seus textos, tão diferentes disso, farão falta aos que preferem pensar a serem aculturados por literaturas tão ralas.
Um grande e agradecido abraço!
Imagem: Fundação José Saramago.
Sábias e belas palavras,William,e imagem maravilhosa.
ResponderExcluirÉ sempre bom vir aqui.Saudade,
boas energias,
Mari
William,
ResponderExcluirAinda não li nada de Saramago, meu irmão meio que me assustou comentando justamente sobre os parágrafos intermináveis. Espero um dia criar coragem.
Grande abraço, e excelente post.
Obrigado, Mari. Um grande beijo!
ResponderExcluirLuciano, como falei, nunca vi problema nesse estilo do Saramago. Tudo é uma questão de adaptação, nos adaptamos a travessões, nos adaptamos a muitos parágrafos, podemos nos adaptar a poucos pontos finais. Não é nada demais, e ele não é o único português que gosta de muitas vírgulas e parágrafos longos, António Lobo Antunes também, e é outro escritor maravilhoso. Um abraço!
P.S.: O "António" com acento agudo é assim mesmo, escrevem dessa forma em Portugal, rs.
Já li alguns tantos livros de Saramago, o que significa, que sua obra me cativou (não costumo ler muitas coisas de um autor qdo não gosto dele...rs).
ResponderExcluirCreio que não exista dificuldade na leitura de sua obra, mas sim, acompanhamento de ritmo e de raciocínio: qdo autor e leitor estão entrosados, o "diálogo" entre eles flue naturalmente... E creio que este "ritmo" próprio de Saramago seja um dos pontos fortes de sua escrita, pois une originalidade e conteúdo ao mesmo tempo.
Saramago esteve entre os mais vendidos com o lançamento do filme " Ensaio Sobre a Cegueira", o que para mim, foi um grande absurdo! Obviamente não me refiro ao simples fato de seu nome estar em tal lista, mas sim, à maneira como ocorreu: há qto tempo o livro havia sido lançado? qtos tiveram a curiosidade/necessidade de lê-lo antes disto? É preciso que se lance um filme de mercado para que as pessoas tenham o mínimo de interesse em procurar saber sobre aquilo (o modismo ridículo das grandes massas...).
Bom, William, mas como vc disse, Saramago fará muita falta: seja para os bons leitores, seja para os leitores da moda...
Abraços,
Bruna.
Bruna, concordo em tudo com você. E nessa questão dos leitores de ocasião, é uma pena que tenham precisado de um filme para buscar Saramago, mas os ocasionais são inevitaveis. Por outro lado, que bom que pelo menos assim leram o livro. Um abraço, minha linda.
ResponderExcluirEncontrar Saramago por aqui, nesses termos tão esclarecedores, foi uma grata surpresa. Muito bom mesmo!
ResponderExcluirUm abraço,
Cybèle
Cybèle, obrigado pela visita. Seja sempre bem vinda. E que bom que gostou do que leu.
ResponderExcluirUm abraço!