06/02/2010

fevereiro 06, 2010
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Estive pensando nos dias cinzentos. Os dias de hoje se encontram cinzentos. As pessoas parecem cinzentas, caminhando pelas ruas como se não caminhassem. Os olhos, quando miram longe, parecem nada ver, ou ver e não enxergar o que de ordinário lhes perece ao redor. Alguém cegou nosso povo.

Hoje, a barbárie é vulgar. Em algum bueiro escuro ficou a capacidade de se indignar. Chacinas causam discussões bem humoradas, estupros produzem piadas de humor negro, e as péssimas ações políticas passam como um fio de linha voando entre o engarrafamento.

Contudo, nem tudo está perdido. Não sejamos tão pessimistas. Na realidade, nosso povo ainda chora, ainda se emociona ― ah como se emociona. Eu seria bastante injusto se não reconhecesse que ainda existem momentos de sensibilidade no nosso povo, que a emoção ainda brota de seus corações e de seus olhos, pois nosso povo ainda se emociona diante à TV.

Sensíveis choram copiosamente com dó da moça, aquela da inverossímil novela das oito, a reles milionária, com seu sotaque da Bahia ― apesar de ter nascido e vivido a maior parte da sua vida no Recife ― que reencontrou sua jovem irmã, uma senhora de trinta e cinco anos ― apesar de ter desaparecido há cinqüenta ― entre os canaviais do nordeste, e que foi amparada por uma família de pobres lavradores, pobres que possuem uma casa de dois andares, com três TVs e uma caminhonete semi-nova. Uma mulher ainda de rosto e corpo jovem, apesar da idade, jovem por que a fé em reencontrar a irmã a manteve assim, quase uma santa. Fé, agora, recompensada por que ali, na sua frente, está sua irmã, rica, muito rica, entretanto sofrida, muito sofrida por sua perda; um sofrimento que só foi possível suportar namorando metade do Rio de Janeiro, a pobrezinha, se entregando a tantos homens ricos e bonitos, se divertindo em festas extraordinárias, viajando pelo mundo, conhecendo lugares maravilhosos, fazendo cruzeiros marítimos, comprando jóias caras, morando numa mansão, passando os fins de semana numa incrível casa na serra ou em Búzios, e tudo, tudo somente para quê? Para suportar a dor da perda. Coitada! Como conseguiu agüentar tanto sofrimento? E como não chorar diante de tanta, de tanta... Bem, sinto a emoção me invadir só de pensar numa cena dessas.

Enfim, diante disso, de tanta sensibilidade, de tanto amor ao próximo, próximo à TV, como eu posso acreditar que tudo está perdido? Não, não mesmo, nem tudo está perdido. Ainda há esperança, só precisamos começar a transmitir as atrocidades do mundo numa linguagem mais dramática, mais dramatúrgica. Ora, nossos jornalistas precisam de aulas de dramatização. Como podem continuar a narrar crimes dessa forma, sem lágrimas, sem a mão no peito, sem gritar “Senhor como isso foi acontecer?”. Como alguém pode se emocionar com algum crime se estes são transmitidos da forma mais insossa e sem sal que já vimos?! E nossos criminosos?! Seus crimes andam tão sem criatividade, tão sem a veia hollywoodiana. Ora, sejamos sensatos, nossas atrocidades andam muito pouco criativas.




Imagem: A conferência dos três grandes em Yalta fazendo planos finais para a derrota da Alemanha. Sentados no pátio estão, o primeiro ministro Churchill, o presidente Roosevelt, e o Premier Stalin, em fevereiro 1945. E claro, uma figura ilustre às costas de todos. Alguém reconhece? (By Flickr - Galeria de Agan Harahap)

4 comentários :

  1. Olá, antes de mais nada, parabéns pelo blog!

    E por acha-lo de muito bom gosto é que o/a convido a vir conhecer a proposta do meu Blog para você.

    Aguado sua visita!

    Forte abraço!

    Karina

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  2. Duro né?
    Adorei a foto ...rs
    Acho que é esse humor que não nos deixa morrer de desesperança.
    Bom domingo
    beijo

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  3. Lindão
    Tem um selo para ti no meu blog!
    Bjos

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  4. Karina, obrigado, vou passar lá. Um grande abraço!

    Angela, concordo com você. Um beijo!

    Aline, vou passar lá pra pegar. Obrigado e um beijo!

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