O homem retornado

Oi, oi. Alguém em casa? Voltei. Posso entrar? É que tens uns cachorros aqui fora, pouco amistosos, prestes a almoçarem a minha sensual panturrilha. Alguém pode abrir a porta. Ah, parece que vem alguém aí. Que cachorro grande, hein?! Se ficar de pé, acredito que ele me beija a cara ou a arranca – apesar de não ser fã de beijar cães, prefiro a primeira opção, minha cara não é tão maravilhosa, mas é minha. Oi, obrigado por abrir a porta.

Meus amigos, como foram esses dias em que estive fora? Algum escritor excêntrico substituiu minha acidez inglesa, como fez o favor de me denominar certa amiga minha – não sei se ela é mesmo minha amiga: acidez inglesa?! Eu sou quase um doce... quer dizer... bem, esqueçamos isso. Mas, então, divertiram-se? A propósito, posso sentar? Ainda estou de pé na sua sala. Vou sentar.

Desculpem a ausência, precisei resolver algo e tive que me afastar por uns dias; não foi nada demais, mas precisava ir, como agora precisava voltar. E já que estamos aqui, quero agradecer a todos que me mandaram suas mensagens, para o blog ou para o meu e-mail; muito obrigado pelo carinho. Inclusive, houve uma leitora preocupada que me escreveu dizendo "Por favor, volte, volte para o seio de seus amigos, seus leitores o esperam voltar são, não nos deixe, não se cale, que Deus o proteja e guarde de todo o mal e corrosões negras e putrefatas da vida suja. Esteja sempre conosco, aqui na terra, melhor que no céu, você é nossa inspiração", amém – o amém foi por minha conta, afinal, me pareceu uma oração. Obrigado, Javanleska, por sua oração carinhosa. Agora já pode ficar tranquila, porque eu voltei, “agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar” – já imaginaram essa música em forma de Death metal? Pareceria que o diabo estava dizendo a todos Vão ter que me engolir, daqui não saio, daqui ninguém me tira. Mas espera um pouco, todos vocês sabem o que é Death metal, não sabem?! Para os que responderam "Não ou Que diabo é isso?", eu ajudo: é aquele estilo de rock pesado em que o cantor usa de uma voz gutural, como se vomitasse no microfone ou alguém o estivesse rasgando as tripas. Não façam essa cara, não é ruim, inclusive fica muito bem quando se mistura com uma voz doce feminina, como no caso da banda Macbeth ou da Within Temptation. Wherever, me desculpem a digressão, acabei mudando de assunto. Continuemos: houve também quem se oferecesse para cuidar de mim. Ah, seria ótimo: um cafuné, dedos macios entre os meus poucos cabelos etc. etc. e tal, palavras doces, Tudo bem, meu bem!, Corra linda da mamãe... É, seria bom, mas tive que deixar para outra ocasião. Também teve alguém que me ligou trinta e oito vezes. Eu soube ontem quando religuei meu telefone. Não sei quem foi, mas obrigado por não desistir de mim. Eu também amo você. Mas deixando de lado as brincadeiras, de coração, obrigado mesmo pelo carinho, é muito bom tê-los aí do outro lado, e alguns, aqui do mesmo lado. O importante é que, como diz o título de uma das peças do meu xará, William Shakespeare, Tudo está bem quando acaba bem, e o mundo continua girando: a seleção brasileira venceu, mas não convenceu, o Lula continua viajando, os Aiatolás ainda atolam seus países, a crise não existe no Brasil, mas o desemprego aumenta, e governos ainda matam em nome da vida.

Bem, é isso. Estou de volta. Obrigado por abrirem a porta e me deixar usar o sofá. Agora vou pra casa, preciso me atualizar dos novos acontecimentos e produzir novos textos. Assim, um grande beijo a todas – sim, todAS; apesar de adorar a literatura russa, não sou russo, não beijo homens – e um grande abraço aos amigOS.



Imagem: Salvador Dali, The Ship.